Terapia cognitivo-comportamental para TOC

 A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) para TOC (transtorno obsessivo compulsivo) vem demonstrando   resultados   satisfatórios   na   remissão   dos   sintomas.
 A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) para TOC (transtorno obsessivo compulsivo) vem demonstrando   resultados   satisfatórios   na   remissão   dos   sintomas.

TOC (transtorno obsessivo compulsivo)

A décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) define TOC como um transtorno quase sempre acompanhado de ansiedade e caracterizado por ideias obsessivas ou comportamentos compulsivos que se repetem com frequência (OMS, 1994). A ansiedade é comumente definida como um sentimento impreciso e desagradável que se caracteriza por um desconforto ligado à antecipação de perigo (Allen, Leonard e Swedo, 1995 cita DE OLIVEIRA 2019).  Esse sentimento torna-se patológico quando se manifesta de maneira exacerbada, interferindo na qualidade de vida, na regulação emocional e na vida diária dos indivíduos (Allen, Leonard e Swedo, 1995 cita DE OLIVEIRA 2019).  Em consonância com essa definição, a quinta edição do DSM define a ansiedade como a antecipação de uma ameaça futura que envolve tensão muscular, preparação para o possível perigo que está por vir e comportamentos de esquiva (APA, 2014).

Obsessões podem ser definidas como pensamentos, impulsos e imagens intrusivos que surgem de forma frequente e persistente, e são percebidos como desagradáveis, enquanto compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais executados como resposta às compulsões ou conforme regras inflexíveis (APA, 2014).  As obsessões geram um alto nível de ansiedade, medo ou desconforto, interferindo nas atividades diárias, no relacionamento interpessoal ou ocupando boa parte do tempo do indivíduo (Cordioli, 2014 cita DE OLIVEIRA 2019).

Atividades corriqueiras e comuns, como sair de casa ou tocar em objetos, ativam as obsessões   uma   vez   que   são   avaliadas   como   ameaçadoras (Cordioli, 2014 cita DE OLIVEIRA 2019).   Algumas características devem sem observadas para relacionar as obsessões ao TOC: 1) são intrusivas, difíceis de controlar ou de afastar; 2) são indesejadas: referem-se à temática de ameaça, perigo ou desastres e não são prazerosas; 3) provocam resistência:  o indivíduo luta contra elas tentando afastá-las ou neutralizá-las e 4) são egodistônicas; vão de encontro aos valores e desejos do indivíduo (Purdon & Clark, 2005 cita DE OLIVEIRA 2019).

Mesmo reconhecendo que essas ideias são infundadas e improváveis de se concretizar objetivamente, o indivíduo desenvolve rituais estereotipados, no intuito de evitar que esses pensamentos se tornem realidade (OMS,1994), de neutralizar as obsessões e diminuir a ansiedade (APA, 2014). Cordioli (2014 cita DE OLIVEIRA 2019) define como cinco as consequências das obsessões: 1)    rituais    compulsivos    ou    compulsões    mentais, 2) comportamentos evitativos, 3) neutralizações, 4) hipervigilância e 5) indecisão.

Até pouco tempo, o tratamento do TOC mostrava-se desafiador para profissionais da saúde mental; no entanto, com o desenvolvimento de técnicas comportamentais, cognitivas e medicamentos antiobsessivos, esse cenário foi modificado (Cordioli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019). As principais terapêuticas empregadas atualmente no tratamento do TOC são as farmacológicas e as psicoterapias.  No entanto, indivíduos que sofrem de TOC levam, em média, sete anos para procurar tratamento (Marques, 2001 cita DE OLIVEIRA 2019).

Sexo, idade, ocupação, grau de escolaridade, tipo e gravidade dos sintomas, grau de incapacitação e comorbidades são fatores que podem dificultar a procura de tratamento para esse transtorno, assim como ocorre com indivíduos acometidos por outras psicopatologias (Torres & Lima, 2005 cita DE OLIVEIRA 2019).

Terapia cognitivo-comportamental (TCC)

As denominações Terapia Cognitiva e Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) são comumente utilizadas como sinônimas para se referir às psicoterapias baseadas no modelo cognitivo, sendo   que   a   TCC   se   utiliza   de   técnicas   cognitivas   associadas   a   técnicas comportamentais em suas intervenções (Beck, 2005 cita DE OLIVEIRA 2019).

A TCC é definida por Wright, Basco e Thase (2009 cita DE OLIVEIRA 2019) como uma abordagem que se baseia em dois princípios centrais: 1) as cognições possuem influência controladora sobre as emoções e os comportamentos e 2) o modo de comportar-se de um indivíduo pode afetar seus padrões de pensamento e suas emoções. O objetivo dessa abordagem psicoterápica está centrado na modificação de pensamentos, significados, em uma mudança emocional e duradoura, bem como na autonomia do paciente e no alívio e remissão dos sintomas que ele apresenta (Beck, 1993 cita DE OLIVEIRA 2019). Em suma, o foco dessa abordagem é a identificação e correção de padrões de pensamento conscientes ou não conscientes (Knapp, 2009 cita DE OLIVEIRA 2019).

Segundo Lotufo   Neto   e   Bartieri (2001 cita DE OLIVEIRA 2019), alguns   fenômenos   cognitivos   podem contribuir para o desenvolvimento do TOC, além de interferir no tratamento, como, por exemplo, pensamentos   automáticos   negativos   que   influenciam   e   mantém   os   rituais. Pensamentos automáticos são palavras, ideias, imagens ou lembranças associadas à emoção e à interpretação dos eventos que surgem de forma espontânea e, na maioria das vezes, não são discriminados (Lotufo Neto e Bartieri, 2001 cita DE OLIVEIRA 2019). Esses pensamentos são, em geral, específicos ao indivíduo, se manifestam de maneira rápida e estão ligados à avaliação feita do significado de experiências vivenciadas (Wright et al., 2009 cita DE OLIVEIRA 2019).

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) para TOC

A terapia cognitivo comportamental (TCC) para o TOC tem seu tratamento focado nos pensamentos automáticos, nas tentativas de neutralização, nas antecipações catastróficas e na flexibilização de crenças disfuncionais, além de utilizar-se de análises funcionais, técnicas de EPR, entre outras (Lotufo Neto & Baltieri, 2001 cita DE OLIVEIRA 2019). Conforme explicitado por Cordioli (2008 cita DE OLIVEIRA 2019), a TCC para o TOC segue as etapas listadas a seguir: 1) avaliação do paciente; 2) fase inicial; 3) fase intermediária e 4) alta, prevenção de recaídas e terapia de manutenção.

Na avaliação obtém-se o diagnóstico de TOC e avaliam-se as contraindicações e fatores de não resposta (Cordoli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019). Recomenda-se que, nessa etapa do tratamento, a gravidade dos sintomas seja quantificada, no intuito de auxiliar o terapeuta a avaliar as chances de sucesso da terapia (Franklin e Foa,2016 cita DE OLIVEIRA 2019). O principal instrumento utilizado para avaliar o grau de sintomatologia é a Escala Obsessivo Compulsiva de Yale-Brown (Y-BOCS), que consiste em uma entrevista padronizada e semiestruturada contendo cinco itens para avaliação de obsessões e cinco para compulsões, os quais devem ser avaliados de zero a quatro, sendo zero equivalente a nenhum sintoma e quatro equivalente a sintomas muito graves (Franklin e Foa, 2016 cita DE OLIVEIRA 2019). Com o uso dessa escala, é possível avaliar o tempo dispensado pelo paciente às compulsões e obsessões, o grau de influência delas no seu funcionamento, o grau de aflição, as tentativas de resistência aos sintomas e o nível de controle sobre eles (Franklin e Foa, 2016 cita DE OLIVEIRA 2019).

Na segunda etapa, são avaliadas a motivação do paciente e identificados os sintomas listados hierarquicamente, de acordo com a intensidade (Cordioli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019). 

A psicoeducação sobre o transtorno e a terapia é utilizada e introduzem-se os exercícios de EPR, o modelo cognitivo, as técnicas cognitivas e as tarefas de casa (Cordoli, 2008). Os exercícios   cognitivos   e   de   EPR, assim   como   as   técnicas   cognitivas   e comportamentais, continuam e são reforçados na fase intermediária, além do monitoramento até a alta do paciente (Cordoli, 2008). A duração do tratamento, via de regra, é de três a seis meses, com sessões semanais de uma hora que, conforme a remissão dos sintomas, podem ser espaçadas até que se obtenha a alta (Cordoli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019).

Devido à cronicidade do transtorno, é possível que haja recaídas, principalmente se, no momento da alta, a remissão dos sintomas não for completa (Cordoli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019).  Para tanto, o paciente deve ser orientado acerca dessa possibilidade, assim como acerca da prevenção, de como identificar o retorno dos sintomas e retomar a terapia, mesmo que apenas para poucas sessões (Cordoli, 2008 cita DE OLIVEIRA 2019).

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Referência:

DE OLIVEIRA, Aislan José. Técnicas cognitivo-comportamentais no tratamento do transtorno obsessivo compulsivo. Revista de Psicologia da UNESP, v. 18, n. 1, p. 30-48, 2019.

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