Ansiedade Infantil
Transtornos de ansiedade infantil são manifestações clínicas e fisiológicas, classificadas como transtornos mentais, de alta prevalência na população infantil.
A ansiedade é a reação exagerada do organismo de medo e temor diante da expectativa de situações futuras, o que, segundo Stallard (2010 cita DE LIMA, MELO 2020), mostra o quanto é uma condição complexa, que envolve componentes comportamentais, fisiológicos e cognitivos. Do ponto de vista comportamental, é comum observar alterações nos relacionamentos com os familiares, medo de se separar de pai e/ou mãe, medo de ir à escola ou, ainda, mudança nos resultados escolares (Asbahr, 2004 cita DE LIMA, MELO 2020). Dificuldade de estabelecer contatos sociais, seja com crianças ou com adultos, insegurança e timidez também são características comportamentais da criança ansiosa (Silvares, 2000 cita DE LIMA, MELO 2020). Fisiologicamente, os principais sintomas são a taquicardia, dispneia, tensão muscular, vasoconstrição ou dilatação, tremores, tontura, sudorese e parestesias. Cognitivamente, é comum observar apreensão, desconforto mental e inquietação interna (Caíres & Shinohara, 2010 cita DE LIMA, MELO 2020). Essas manifestações são respostas de autoproteção, mas que podem variar, segundo o desenvolvimento da criança e suas experiências pregressas.
O CID-10, publicação de 1993 pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1993), classificou a ansiedade infantil a partir de três quadros, sendo: (a) o transtorno de ansiedade de separação; (b) transtorno de ansiedade generalizada e (c) transtorno de ansiedade social. Já o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-5), publicado pela American Psychiatric Association (APA, 2014) classificou a ansiedade infantil em cinco quadros, sendo os três primeiros idênticos ao CID-10: (a) transtorno de ansiedade de separação; (b) transtorno de ansiedade generalizada; (c) transtorno de ansiedade social; além de (d) mutismo seletivo e (e) fobia específica.
Aplicação da TCC na redução da Ansiedade Infantil
A aplicação da TCC junto a crianças exige planejamento e adoção de estratégias que visem alcançar bons resultados. Para Wright et al. (2008), a TCC está fundamentada em um conjunto de teorias, que são usadas para formular planos de tratamento e orientar as ações do terapeuta. Estas se fundamentam nos principais elementos do modelo cognitivo-comportamental, que envolvem o evento, a avaliação cognitiva, a emoção e o comportamento.
O planejamento exige conhecimento prévio de algumas condições que, segundo Pureza et al. (2014), envolvem a identificação da criança e compreensão sobre suas queixas, além do processo de conceitualização cognitiva. A identificação da criança e compreensão de suas queixas são pontos fundamentais para definição o planejamento da TCC. Mas, normalmente, a criança é encaminhada ao serviço de saúde não por apresentar os sintomas ansiosos, mas em decorrência das consequências que esses sintomas provocam. Por isso, o terapeuta deve estabelecer contato com os pais ou responsáveis, ou outros membros do grupo familiar, quando necessário.
Nesse sentido, Pureza et al. (2014 cita DE LIMA, MELO 2020) explicam que é importante realizar uma anamnese completa para compreender em profundidade os aspectos emocionais da criança e do ambiente imediato que a cerca. Conhecer os vínculos estabelecidos, o humor que prevalece, a reação às diversas situações vivenciadas, a dinâmica psicossocial interpessoal e familiar, contribuem para estabelecimento de um plano de ação adequado.
A prática clínica da TCC, inclusive, tem demonstrado que quanto mais completa a anamnese, melhor o planejamento e a condução do caso. Esse ponto é reforçado por Lopes e Lopes (2013, p. 23 cita DE LIMA, MELO 2020), que tratam que “a avaliação de uma criança em TCC é um processo amplo que abrange a averiguação de informações de múltiplas fontes”, de forma a garantir a veracidade das informações coletadas.
Assim, podem ser abordados os pais, a família, professores e a criança. Para Fernandes et al. (2009 cita DE LIMA, MELO 2020), a participação de pais, família e cuidadores não deve ser restrita apenas à anamnese, mas também no programa de intervenção, sendo agentes que efetivamente mudem o ambiente no qual a criança vive.
A partir do conhecimento inicial sobre a criança e suas queixas, deve-se iniciar a conceitualização do caso, etapa esta que compreende a formulação de uma hipótese para o trabalho e um plano de tratamento. Nesta etapa, de acordo com explicações de Murta e Rocha (2014 cita DE LIMA, MELO 2020), os sintomas apresentados pela criança são avaliados, sua história de vida e as influências em seu desenvolvimento. Aspectos contextuais mais relevantes, bem como os aspectos biológicos, genéticos, histórico familiar de saúde e recursos sociais e pessoais também devem ser considerados, juntamente com seus pensamentos automáticos, emoções e comportamentos associados. A partir da primeira sessão estabelece-se um consenso entre o terapeuta e o paciente ou sua família.
Segundo Friedberg et al. (2011 cita DE LIMA, MELO 2020), as principais intervenções no contexto da TCC para criança com ansiedade são: psicoeducação; reconhecimento e manejo das emoções; identificação de cognições distorcidas que aumentam a ansiedade; questionamento de pensamentos e desenvolvimento de cognições que reduzem a ansiedade; exposição e prática; automonitoramento; reforço e preparação para reveses.
Principais Intervenções da TCC
A psicoeducação tem a finalidade de orientar o paciente em diversos aspectos de sua vida, que estão relacionados ao comportamento e construção de valores, crenças e sentimentos que podem repercutir em sua vida. Envolve técnicas didáticas para o indivíduo aprender a lidar com a ansiedade. Também tem a função de auxiliar a família na compreensão da doença, independente da origem da patologia (Nogueira et al., 2017 cita DE LIMA, MELO 2020).
A intervenção para reconhecimento e manejo das emoções é considerada experiencial, baseada na empatia e na utilização de procedimentos vivenciais que são deflagrados por condições específicas, que são observadas durante a TCC. Tem a finalidade de reestruturar esquemas emocionais do paciente (Mendes, 2015 cita DE LIMA, MELO 2020).
A identificação de cognições distorcidas é intervenção que visa identificar distorções cognitivas capazes de criar afeto negativo, especialmente relacionadas a crenças fixas que são desenvolvidas na infância. Tais crenças são capazes de produzir pensamentos automáticos, que estão sujeitos a erros e distorções, capazes, portanto, de produzir mais cognições negativas (Stallard, 2009 cita DE LIMA, MELO 2020). Já o desenvolvimento de cognições adaptativas na TCC tem como finalidade auxiliar o indivíduo a dar um novo significado aos padrões equivocados de pensamentos, sendo essa intervenção de grande relevância nessa terapia (King et al., 2011 cita DE LIMA, MELO 2020).
As técnicas de exposição e práticas visam corrigir interpretações distorcidas de sintomas que são experimentados pelo paciente, seja por lugares, pessoas ou situações temidas. Permitem, ao propor contato controlado com a situação que causa a ansiedade, que o paciente elabore melhor seus pensamentos e reações frente à situação. Objetivam auxiliar na remissão dos componentes cognitivos disfuncionais atrelados (King et al., 2011 cita DE LIMA, MELO 2020).
O automonitoramento é uma forma de intervenção da TCC que utiliza a observação, avaliação e intervenção comportamental, podendo ser usada em diferentes populações e contextos. Por meio do registro e análise sistemática de um comportamento, busca esclarecer um diagnóstico, delimitar objetivos ou intervenções, planejar a sessão, ou, ainda, avaliar o progresso da terapia e a redução da frequência do comportamento problema (Bohm & Gimenes, 2008 cita DE LIMA, MELO 2020).
Por fim, a preparação para reveses consiste em preparar o paciente, comportamental e cognitivamente, para as situações de ansiedade que viverá e como lidar com elas (Silva, 2014 cita DE LIMA, MELO 2020).
Pode-se observar, então, que a seleção de intervenções adequadas é vital para a efetividade da TCC. A escolha, portanto, estará voltada para o processo de experiência da criança com ansiedade e caberá ao terapeuta identificar a intervenção mais eficaz para cada caso concreto.
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Referência:
DE LIMA, Ana Carolina Rimoldi; MELO, Brígida Alvares Dornelas. A efetividade da terapia cognitivo-comportamental na redução da ansiedade infantil. Psicologia e Saúde em debate, v. 6, n. 1, p. 213-226, 2020.