Transtorno de Ansiedade Social (TAS) – Fobia Social
A palavra fobia advém do grego phobos, que corresponderia a um intenso medo e terror (Cordás, 2014; Lopes, 2013; Silveira & Valença, 2005 cita GUSMÃO 2013). Disso, pode-se concluir que fobia social seria, então, um temor à exposição a situações sociais e/ou demonstração de uma imagem negativa de si mesmo.
Mululo, Menezes, Fontenelle e Versiani (2009 cita GUSMÃO 2013) apontam que o TAS foi reconhecido oficialmente na década de 1980. Além disso, de acordo com o DSM-5 (American Psychiatric Association [APA], 2014, p. 202), essa enfermidade seria considerada um “… medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas”.
Os estudos de Heimberg e colaboradores (1995 cita GUSMÃO 2013) demonstram que quando indivíduos acometidos pelo TAS se envolvem em determinadas situações, eles acreditam que estão em apuros, passando, então, a se comportar de maneira desajustada e inaceitável. Tais atitudes trariam consequências negativas com relação às questões referentes ao status, perda da palavra e rejeição. Dessa forma, quando a pessoa portadora do transtorno percebe que está diante de uma situação temida, automaticamente é ativado um conjunto de sintomas fóbicos, atingindo as esferas cognitiva, afetiva e comportamental (Heimberg et al., 1995 cita GUSMÃO 2013).
Barros Neto (2000 cita GUSMÃO 2013) defende que o fóbico social sabe que seu temor é exacerbado, porém, teme transparecer indícios de ansiedade, como tremor e sudorese, por exemplo. Além disso, vários temores referem-se a parecer ser tolo, de ser o centro das atenções, de cometer equívocos, dentre outros, e, por causa disso, frequentemente pensa que é alvo de comentários ou risos.
TCC – Terapia Cognitiva Comportamental
A TCC – Terapia Cognitiva Comportamental é definida como uma intervenção breve, estruturada e focada na resolução de problemas por meio da modificação de pensamentos e comportamentos disfuncionais (Beck, 1997 cita GUSMÃO 2013). Essa modalidade de terapia se configura não somente como um modelo de tratamento, mas se caracteriza também como uma teoria da personalidade e da psicopatologia unificadas, tendo comprovação de sua eficácia por meio de evidências empíricas no tratamento de diversos transtornos.
A TCC baseia-se no modelo cognitivo, que pressupõe que as cognições influenciam as emoções e comportamentos (Beck, 1997 cita GUSMÃO 2013), que, por sua vez, são afetados pela interpretação e/ou percepção das situações (Breshi & Castro, 2013 cita GUSMÃO 2013). Trata-se de uma abordagem psicoterapêutica educativa, focal e baseada em discussões, em que o terapeuta assume uma postura diretiva e colaborativa, utilizando-se de técnicas cognitivas e comportamentais (Beck, 1997; Ito et al., 2008; Wright, Basco, & Thase, 2008 cita GUSMÃO 2013). Beck (1997 cita GUSMÃO 2013) ressalta que a TCC pode ser adaptada a indivíduos de todas as idades e classes sociais, sendo aplicada não somente a trabalhos individuais, mas também a psicoterapias de grupo, de família e de casais.
TCC para Transtorno de Ansiedade Social
No tocante ao tratamento do TAS, destacam-se como abordagens terapêuticas com eficácia empiricamente comprovada a terapia cognitivo-comportamental (TCC) individual, a TCC em grupo (McEvoy et al., 2012 cita GUSMÃO 2013) e a farmacoterapia. Alguns estudos indicam, ainda, que o tratamento associado de farmacoterapia e psicoterapia promova melhores resultados do que a aplicação dos mesmos isoladamente (Kaplan & Sadock, 2007 cita GUSMÃO 2013).
Para a avaliação em TCC é necessário a realização de uma anamnese completa do paciente e o exame de seu estado mental, além do levantamento de seus sintomas atuais, suas relações interpessoais e sua base sociocultural, seus pontos fortes pessoais, considerando-se também os fatores da história de seu desenvolvimento, da genética, dos fatores biológicos e das doenças médicas (Wright et al., 2008 cita GUSMÃO 2013). Nesse sentido, Falcone (2001 cita GUSMÃO 2013) ressalta que se deve atentar aos fatores que contribuíram para o desenvolvimento e para a manutenção dos sintomas cognitivos, somáticos e comportamentais, assim como realizar um levantamento dos episódios recentes de ansiedade social.
Ainda, deve-se considerar, em primeiro lugar, os sintomas que causem maior dano ao paciente, pois, conforme o grau do transtorno e o nível de esquiva e disponibilidade do paciente, deve-se realizar o encaminhamento para tratamento individual ou grupal (Ito et al., 2008 cita GUSMÃO 2013).
Beck (1997 cita GUSMÃO 2013) aponta que é necessária também a educação do paciente quanto ao seu transtorno, de maneira que evite o uso de jargões e rótulos, instaurando a esperança no paciente e lhe mostrando que ele não é o único que enfrenta o mesmo problema. Quanto ao TAS, Ito e colaboradores (2008 cita GUSMÃO 2013) apontam para a necessidade de se conversar com o paciente a respeito de um possível tratamento farmacológico e/ou do engajamento da família no processo. A importância da psicoeducação está no esclarecimento dos principais pontos envolvidos no tratamento para o paciente, considerando-se que a TCC é uma abordagem colaborativa, permitindo que ele possa participar ativamente do processo.
Além disso, vale mencionar que a TCC é orientada para metas e, desse modo, os objetivos do tratamento devem ser desenvolvidos entre terapeuta e paciente de maneira colaborativa. As metas mais frequentes abrangem amenizar a ansiedade antecipatória, inerentes aos sintomas fisiológicos da ansiedade e dos pensamentos negativistas que sustentam as crenças disfuncionais e a esquiva fóbica, e desenvolver habilidades sociais (Ito et al., 2008 cita GUSMÃO 2013).
São muitas as técnicas cognitivas e comportamentais utilizadas no tratamento do TAS. De acordo com revisão dos principais estudos na área, destacam-se as seguintes técnicas: a reestruturação cognitiva; o treino de relaxamento; o treino de habilidades sociais; e experimentos comportamentais.
Reestruturação Cognitiva
De acordo com D’el Rey e Pacini (2005 cita GUSMÃO 2013), a reestruturação cognitiva é realizada para ensinar os pacientes a identificar suas cognições irracionais (Boden et al., 2012 cita GUSMÃO 2013), realizando um teste de realidade e corrigindo o conteúdo distorcido. Desse modo, os pacientes são instruídos a identificar e a avaliar seus pensamentos automáticos distorcidos segundo evidências reais, o que pode ser realizado por meio de questionamento socrático e experimentos comportamentais, visando a elaboração de crenças menos tendenciosas e padronizadas (Mululo et al., 2009a, 2009b cita GUSMÃO 2013). Pode-se observar que a reestruturação cognitiva objetiva trazer o paciente para a realidade por meio do exame das evidências, o que fará com que ele perceba os erros cognitivos que está cometendo, como a supervalorização de situações ansiogênicas.
Treino de Relaxamento
O treino de relaxamento, por sua vez, tem o objetivo principal de possibilitar ao paciente atingir um estado de calma mental e física (White et al., 2008 cita GUSMÃO 2013). Essa técnica, no tratamento da fobia social, visa fazer o paciente aprender a controlar suas respostas fisiológicas da ansiedade (Ito et al., 2008 cita GUSMÃO 2013), podendo ser utilizada por meio do controle da respiração e do relaxamento muscular. Desse modo, as técnicas de relaxamento são uma das primeiras ferramentas no tratamento do TAS, permitindo ao paciente um maior controle de si em situações ansiosas, o que pode servir como parâmetro para a utilização de outras técnicas comportamentais.
Treino de Habilidades Sociais
Já no tocante ao treino de habilidade sociais, Savoia e Barros Neto (2000 cita GUSMÃO 2013) defendem que essa técnica é bastante utilizada no caso de o TAS por conta de os indivíduos portadores da patologia possuírem um déficit em suas habilidades sociais. Logo, a utilização da técnica facilitaria o uso de outras, como a exposição, e auxiliaria a reestruturação cognitiva por meio da redução da ansiedade em meio ao contato interpessoal. Desse modo, justifica-se a utilização da técnica como um dos elementos de suma importância na avaliação do TAS (Bolsoni-Silva, & Loureiro, 2014 cita GUSMÃO 2013). Segundo Falcone (2001 cita GUSMÃO 2013), o treinamento em habilidades sociais permite o desenvolvimento de capacidades para defender os próprios direitos, expressar opiniões, recusar pedidos, entre outros. Nesse sentido, considera-se que as habilidades sociais são compostas por comportamentos verbais e não verbais e os padrões comportamentais resultantes desses últimos são: o comportamento assertivo, que se expressa; o não assertivo, que evita confrontações; e o agressivo, que explode (Savoia & Barros Neto, 2000 cita GUSMÃO 2013). Dessa maneira, o treino de habilidades sociais visa incorporar padrões assertivos ao repertório comportamental do paciente.
Experimentos Comportamentais
Os experimentos comportamentais, como salientado por White e colaboradores (2008 cita GUSMÃO 2013), têm como objetivo expor o indivíduo a situações que representam ansiedade, o que deve ser feito de maneira gradual, geralmente envolvendo a dessensibilização sistemática, no qual trabalharia com uma hierarquia de estímulos temidos. Esse procedimento pode ser realizado de duas maneiras: por meio da imaginação, a partir da geração de imagens mentais, e exposição in vivo, onde há a confrontação com o estímulo que representa medo ao paciente (Mululo et al., 2009a, 2009b; White et al., 2008 cita GUSMÃO 2013). Geralmente, a exposição in vivo é realizada no estágio final do tratamento, momento em que o paciente sente-se mais seguro para entrar em contato com o objeto de fobia.
O tratamento deve ser encerrado quando houver uma diminuição significativa dos sintomas, momento em que deve ser revisado com o paciente tudo o que foi aprendido durante a terapia para que ele possa se utilizar de tais procedimentos, caso seja necessário, sendo alertado e preparado também para uma eventual recaída (Ito et al., 2008 cita GUSMÃO 2013).
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Referência:
GUSMÃO, Estefanea Élida da Silva et al. Contribuições da terapia cognitivo-comportamental para o tratamento da fobia social. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 9, n. 2, p. 118-125, 2013.