Habilidades Sociais
Em qualquer relação interpessoal são requeridas habilidades para que a convivência seja satisfatória aos envolvidos na interação. Tais habilidades são chamadas de habilidades sociais (HS), definidas como classes de comportamentos presentes no repertório de um indivíduo que constituem um desempenho socialmente competente. Qualquer desempenho que ocorre em uma situação interpessoal é considerado um desempenho social, podendo ser caracterizado como socialmente competente ou não. A competência social é um atributo avaliativo do desempenho social, que depende de sua funcionalidade e da coerência com os pensamentos e sentimentos do indivíduo (Del Prette, Z. A. P. e Del Prette, A. 2001a). O comportamento socialmente competente ou habilidoso é um conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa seus sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos, de um modo adequado à situação, respeitando esses comportamentos nos demais, e que geralmente soluciona os problemas imediatos da situação e diminui a probabilidade de futuros problemas (Caballo, 1996/2002). As HS reúnem componentes comportamentais (verbais de forma, verbais de conteúdo e não verbais), cognitivo-afetivos mediadores (habilidades e sentimentos envolvidos na decodificação das demandas interpessoais da situação, na decisão sobre o desempenho requerido nessa situação e na elaboração e automonitoria desse desempenho) e fisiológicos (processos sensoriais e de regulação ou controle autonômico) (Del Prette, Z. A. P. e Del Prette, A. 2001b cita MAGALHÃES, MURTA 2003).
As HS podem ser desenvolvidas naturalmente, durante todo o ciclo vital e em diversos contextos. Na infância, as práticas educativas parentais, como estratégias de controle, modos de comunicação, qualidade e quantidade de exigências de amadurecimento e demonstração de afeto na relação com os filhos, influenciam o desenvolvimento das HS (Murta, 2002). Com a passagem para a escola, a criança consolida as habilidades já aprendidas e necessita aprender outras, principalmente, para interagir com os iguais. A interação competente com outras crianças resulta em aceitação dos outros, popularidade e aquisição de amigos (Trianes, 2002). Na adolescência, as pessoas significativas esperam que o jovem apresente comportamentos sociais mais elaborados, visualize o futuro e busque pessoas do sexo oposto. Na vida adulta, habilidades profissionais e sexuais são requeridas em prol da independência e do intercâmbio cultural. Na velhice, com a diminuição da percepção e da responsividade, é importante desenvolver habilidades para lidar com preconceitos, manifestados através de evitação, agressividade e superproteção (Del Prette, Z. A. P. e Del Prette, A., 2001b cita MAGALHÃES, MURTA 2003).
Treinamento de Habilidades Sociais
Embora existam inúmeros contextos favorecedores do Treinamento de Habilidades Sociais ao longo da vida, déficits podem decorrer de longos períodos de isolamento e desuso, perturbações cognitivas e afetivas (Bellack e Morrison, 1982) e práticas educativas parentais, excessivamente, coercitivas (Papalia e Olds, 2000). As dificuldades em HS, normalmente, envolvem conflitos interpessoais; má qualidade de vida; problemas psicológicos, como timidez, desajustamento escolar, depressão, pânico e esquizofrenia (Argyle, 1967/1994; Morrison e Bellack, 1987; Wallace e Liberman, 1985); e respostas fisiológicas, como cefaleia e gastrite (Del Prette, A. e Del Prette, Z. A. P., 2001 cita MAGALHÃES, MURTA 2003).
Dado o impacto negativo dos déficits em HS sobre a saúde e a qualidade de vida das pessoas, intervenções têm sido desenvolvidas nesta área com a denominação geral de Treinamento de Habilidades Sociais (THS). O THS consiste no ensino direto e sistemático de habilidades interpessoais com o propósito de aperfeiçoar a competência individual e interpessoal em situações sociais (Curran, citado por Caballo, 1996/2002), sendo realizado sob diversos enfoques teóricos: o humanista, o comportamental, o cognitivo-comportamental e o sistêmico (Arón e Milicic, 1994). Tal treinamento pode ser voltado tanto para prevenção primária, por exemplo com crianças em escolas para prevenir a ocorrência de déficits em HS ao longo das etapas seguintes de desenvolvimento (Del Prette, Z. A. P. e Del Prette, A., 1998), quanto para prevenção secundária, como junto a adultos com esquiva de situações sociais e déficits já instalados (MAGALHÃES, MURTA 2003).
Aplicação do Treinamento de Habilidades Sociais
Os primeiros programas de THS foram propostos em formato individual, mas a literatura recente (Almeida, 2003) tem chamado a atenção para as seguintes vantagens de intervenções em grupo: (a) uma situação social já estabelecida, (b) tipos de pessoas diferentes para representar papéis e dar feedbacks, (c) uma série de modelos para modelação, e (d) modelos com características em comum com o observador, o que facilita a aprendizagem observacional (Caballo, 1996/2002). Um modelo de THS em grupo foi proposto por Caballo (1996/2002), com sessões semanais de 2 horas de duração, ao longo de 8 a 12 semanas, com 8 a 12 participantes e focado em direitos interpessoais; estilos de comunicação assertivo, não assertivo e agressivo; reestruturação cognitiva de crenças irracionais; e ensaio comportamental (MAGALHÃES, MURTA 2003).
O planejamento da avaliação de programas de THS é tão relevante quanto o planejamento de sua implementação. Avaliações de programas podem ser realizadas em quatro fases: (a) antes do tratamento (avaliação de necessidades), (b) durante o tratamento (avaliação de processo), (c) depois do tratamento (avaliação de resultados) e (d) no período de acompanhamento (avaliação de follow-up). Inicialmente, realiza-se uma ampla análise comportamental para identificar os déficits em HS do participante. Durante o tratamento, verifica-se a forma com que os comportamentos do indivíduo se modificam e o modo como o paciente avalia seu próprio progresso. Estas avaliações permitem averiguar se a intervenção escolhida foi correta ou se é necessário mudar o tipo de intervenção que está sendo realizada. A avaliação depois do tratamento possibilita uma ideia da melhora do participante e a avaliação no período de acompanhamento serve para explorar o grau em que o paciente manteve as mudanças e se progrediu mais com o passar do tempo (Caballo, 2003 cita MAGALHÃES, MURTA 2003).
Para avaliar os programas de Treinamento de Habilidades Sociais é recomendado o uso conjunto de instrumentos de avaliação das HS dos participantes para que se obtenha indicadores comportamentais, cognitivo-afetivos e fisiológicos (Caballo, 2003). As metodologias, usualmente, empregadas na avaliação das HS incluem: (a) os auto relatos, através de questionários, inventários ou escalas; (b) a entrevista; (c) o auto registro; (d) a observação do comportamento em situação natural e artificial, semelhante à vida real; (e) as avaliações por outros significantes, e (f) os registros psicofisiológicos (Del Prette, Z. A. P. e Del Prette, A., 2001b cita MAGALHÃES, MURTA 2003).
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Referências:
MAGALHÃES, Pethymã P.; MURTA, Sheila G. Treinamento de habilidades sociais em estudantes de psicologia: um estudo pré-experimental. Temas em Psicologia, v. 11, n. 1, p. 28-37, 2003.