Fobia Social
No transtorno de ansiedade social (fobia social), o indivíduo é temeroso, ansioso ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliado. Estão inclusas situações sociais como encontrar-se com pessoas que não são familiares, situações em que o indivíduo pode ser observado comendo ou bebendo e situações de desempenho diante de outras pessoas. A ideação cognitiva associada é a de ser avaliado negativamente pelos demais, ficar embaraçado, ser humilhado ou rejeitado ou ofender os outros (DSM-5).
Nas ultimas décadas alguns estudos estão utilizando a tecnologia para ajudarem os terapeutas a trabalharem o tratamento de transtornos de ansiedade social e outros.
A Realidade Virtual surgiu como um recurso facilitador da técnica de exposição; como um ambiente controlado para imersão de indivíduos com transtorno de ansiedade social (fobia social); e, possibilita a modelagem de comportamentos sociais, por meio de contingências programadas.
Realidade Virtual; Prós e contras no processo terapêutico
A utilização de recursos tecnológicos pode contribuir para agilidade do processo terapêutico e para o desenvolvimento de formas cada vez mais criativas e produtivas de ação. Como recurso complementar à psicoterapia, a tecnologia de Realidade Virtual (RV) possibilita atuação dinâmica e ativa tanto do terapeuta quanto do cliente e abre espaço para investigações sistemáticas sobre a eficácia de programas de intervenção terapêuticos que incluem essa tecnologia (Barbosa, 2013).
O presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) João Ilo Coelho Barbosa diz que uma grande vantagem da Terapia de Exposição à Realidade Virtual (Virtual Reality Exposure Therapy) VRET em relação à técnica de exposição ao vivo ou imaginada é sua aceitabilidade por parte dos clientes. Outras vantagens da VRET sobre a técnica de exposição ao vivo estariam na facilidade de aplicação da VRET, se comparada com a exposição ao vivo, que requer o arranjo de contingências nem sempre fácil de ser feito e carrega um alto grau de aversividade. A realização da exposição em um ambiente mais controlado, como o consultório, também permite o melhor controle do terapeuta sobre o conteúdo e ritmo da exposição, possibilitando ainda sua repetição por quantas vezes forem necessárias. Esses recursos certamente ampliam as possibilidades de utilização da técnica para clientes que não tenham tido êxito com outras estratégias terapêuticas, bem como para aqueles que ainda não se sentem preparados para enfrentar uma situação real.
Grande parte dos softwares voltados para a realização de exposição virtual permite variar, até certa medida, os parâmetros utilizados para a apresentação dos ambientes virtuais, como o número de pessoas virtuais presentes na situação, a intensidade dos estímulos fóbicos e de outros estímulos pareados a este, como sons, símbolos e imagens, além do tempo de apresentação desses estímulos. Dessa forma, é possível customizar parcialmente a VRET para cada cliente, o que certamente traz grande vantagem terapêutica.
Por outro lado, um ambiente de consultório previamente estruturado para a realização da VRET apresenta limitações quanto à reprodução precisa das contingências em ação em uma situação fóbica, o que certamente acarreta em diferenças quanto aos resultados obtidos com uma exposição ao vivo, dificuldades em alguns participantes em se sentirem imersos nos ambientes virtuais, queixas em relação ao incômodo produzido pelos estímulos visuais virtuais, além de relatos de sono ou enjoo provocado pelas imagens (Barbosa 2013).
Critérios Diagnósticos segundo a American Psychological Association (APA 2014)
A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras). Nota: Em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, e não apenas em interações com adultos.
B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros).
C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade.
Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo-se ou fracassando em falar em situações sociais.
D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade.
E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural.
F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica.
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental, como transtorno de pânico, transtorno dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista.
J. Se outra condição médica (p. ex., doença de Parkinson, obesidade, desfiguração por queimaduras ou ferimentos) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente não relacionado ou é excessivo.
Fatores de Risco e Prognóstico da Fobia Social
Temperamentais. Os traços subjacentes que predispõem os indivíduos ao transtorno de ansiedade social incluem inibição comportamental e medo de avaliação negativa.
Ambientais. Não existe um papel causal dos maus-tratos na infância ou outra adversidade psicossocial com início precoce no desenvolvimento do transtorno de ansiedade social. Contudo, maus-tratos e adversidades na infância são fatores de risco para o transtorno.
Genéticos e fisiológicos. Os traços que predispõem os indivíduos ao transtorno de ansiedade social, como inibição comportamental, são fortemente influenciados pela genética. Essa influência está sujeita à interação gene-ambiente; ou seja, crianças com alta inibição comportamental são mais suscetíveis às influências ambientais, tais como um modelo socialmente ansioso por parte dos pais. Além disso, o transtorno de ansiedade social pode ser herdado (embora a ansiedade do tipo somente desempenho seja menos). Parentes de primeiro grau têm uma chance 2 a 6 vezes maior de ter o transtorno, e a propensão a ele envolve a interação de fatores específicos (p. ex., medo de avaliação negativa) e fatores genéticos não específicos (p. ex., neuroticismo).
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
Barbosa, J. I. C. Terapia por realidade virtual (VRET): Uma leitura analítico-comportamental. Boletim Contexto – ABPMC, 38, 113-132 (2013).
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.