Transtorno de Ansiedade de Separação
Os Transtornos de Ansiedade estão divididos em vários estágios do desenvolvimento. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 os transtornos são sequenciados de acordo com a idade típica de início. O transtorno de Ansiedade de Separação é mais caracterizado na infância e na adolescência.
O indivíduo com Transtorno de Ansiedade de Separação é apreensivo ou ansioso quanto à separação das figuras de apego até um ponto em que é impróprio para o nível de desenvolvimento. Existe medo ou ansiedade persistente quanto à ocorrência de dano às figuras de apego e em relação a eventos que poderiam levar a perda ou separação de tais figuras e relutância em se afastar delas, além de pesadelos e sintomas físicos de sofrimento. Embora os sintomas se desenvolvam com frequência na infância, também podem ser expressos durante a idade adulta (DSM-5).
Ansiedade e Separação
O psicólogo norte americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) publicou em seu livro “Ciência e comportamento humano” que é no contexto familiar que a criança vai desenvolver os repertórios de socialização e de integração com os outros, de resolução de conflitos e diversas condutas. Nesse repertório, várias figuras estarão presentes além da família, como os amigos, os professores, os avós, fonoaudiólogos, pediatras. Esses personagens importantes na vida da criança, a ajudarão a elaborar seu repertório social, cultural e familiar. A partir desse entendimento, é possível perceber que ao longo da vida, algumas separações podem e vão ocorrer na vida das crianças e que nem sempre essas separações podem e vão causar algum transtorno relacionado à ansiedade. Isso pode ou não ocorrer, e vai depender de diversos fatores (Vasconcelos 2018).
Critérios Diagnósticos para o Transtorno de Ansiedade de Separação – DSM-V:
A –Medo ou ansiedade impróprios e excessivos em relação ao estágio de desenvolvimento, envolvendo a separação daqueles com quem o indivíduo tem apego, evidenciados por três (ou mais) dos seguintes aspectos:
- Sofrimento excessivo e recorrente ante a ocorrência ou previsão de afastamento de casa ou de figuras importantes de apego.
- Preocupação persistente e excessiva acerca da possível perda ou de perigos envolvendo figuras importantes de apego, tais como doença, ferimentos, desastres ou morte.
- Preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado leve à separação de uma figura importante de apego (p. ex., perder-se, ser sequestrado, sofrer um acidente, ficar doente).
- Relutância persistente ou recusa a sair, afastar-se de casa, ir para a escola, o trabalho ou a qualquer outro lugar, em virtude do medo da separação.
- Temor persistente e excessivo ou relutância em ficar sozinho ou sem as figuras importantes de apego em casa ou em outros contextos.
- Relutância ou recusa persistente em dormir longe de casa ou dormir sem estar próximo a uma figura importante de apego.
- Pesadelos repetidos envolvendo o tema da separação.
- Repetidas queixas de sintomas somáticos (p. ex., cefaleias, dores abdominais, náusea ou vômitos) quando a separação de figuras importantes de apego ocorre ou é prevista.
B. O medo, a ansiedade ou a esquiva é persistente, durando pelo menos quatro semanas em crianças e adolescentes e geralmente seis meses ou mais em adultos.
C. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, acadêmico, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental, como a recusa em sair de casa devido à resistência excessiva à mudança no transtorno do espectro autista; delírios ou alucinações envolvendo a separação em transtornos psicóticos; recusa em sair sem um acompanhante confiável na agorafobia; preocupações com doença ou outros danos afetando pessoas significativas no transtorno de ansiedade generalizada; ou preocupações envolvendo ter uma doença no transtorno de ansiedade de doença.
Fatores de Risco e prognóstico segundo o DSM-5
Ambientais: O transtorno de ansiedade de separação frequentemente se desenvolve após um estresse vital, sobretudo uma perda (p. ex., a morte de um parente ou animal de estimação; doença do indivíduo ou de um parente; mudança de escola; divórcio dos pais; mudança para outro bairro; imigração; um desastre que envolveu períodos de separação das figuras de apego). Em jovens adultos, outros exemplos de estresse vital incluem sair da casa dos pais, iniciar uma relação romântica e tornar-se pai. A superproteção e a intromissão parentais podem estar associadas ao transtorno de ansiedade de separação.
Genéticos e fisiológicos: O transtorno de ansiedade de separação em crianças pode ser herdado. A herdabilidade foi estimada em 73% em uma amostra da comunidade de gêmeos de 6 anos, com taxas mais altas entre as meninas. As crianças com o transtorno exibem sensibilidade particularmente aumentada à estimulação respiratória usando ar enriquecido com CO2.
Questões Diagnósticas Relativas à Cultura: Existem variações culturais no grau em que é considerado desejável tolerar a separação, tanto que as demandas e oportunidades de separação entre pais e filhos são evitadas em algumas culturas. Por exemplo, existe ampla variação entre países e culturas no que diz respeito à idade em que é esperado que os filhos deixem a casa dos pais. É importante diferenciar o transtorno de ansiedade de separação do alto valor que algumas culturas depositam na forte interdependência entre os membros da família.
Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero: As meninas manifestam maior relutância ou comportamento de esquiva com relação à escola do que os meninos. A expressão indireta do medo de separação pode ser mais comum no sexo masculino do que no feminino, por exemplo, por meio de atividade independente limitada, relutância em sair de casa sozinho ou sofrimento quando o cônjuge ou filho faz coisas de forma independente ou quando o contato com um deles não é possível.
Risco de Suicídio: O transtorno de ansiedade de separação em crianças pode estar associado a risco aumentado de suicídio. Em uma amostra da comunidade, a presença de transtornos do humor, transtornos de ansiedade ou uso de substância foi associada a ideação suicida e tentativas de suicídio. No entanto, essa associação não é específica do transtorno de ansiedade de separação, sendo encontrada em diversos transtornos de ansiedade.
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br.
Referência:
VASCONCELLOS, Ana Rodrigues. Ansiedade de separação: um estudo de caso com a abordagem da análise do comportamento. Revista Espaço Acadêmico, v. 17, n. 200, p. 129-139, 2018.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano(J. C. Todorov, & R. Azzi, Trans.). São Paulo: Martins Fontes, (2003).
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.