TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento que surge durante a primeira infância, delimitado por graus danosos de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade (APA, 2014).
As alterações do comportamento cognitivo devido ao transtorno, geram prejuízos no funcionamento em grau pessoal, social, acadêmico ou profissional. Além disso, é comum o desenvolvimento de transtornos comórbidos associados a patologia, que em alguns casos persistem na vida adulta (APA, 2014; Saúde SC, 2015; Paula Ribeiro, 2016; Mognon, 2017 cita De Souza, Da Silva 2021).
Nesse contexto, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode surtir efeitos positivos no tratamento de pessoas com TDAH, sobretudo se combinada com a administração farmacológica. A TCC foca em modificar os pensamentos e comportamentos que fortalecem os efeitos danosos do distúrbio, instruindo técnicas às pessoas para que estas possam conter os principais sintomas do mesmo, bem como, às auxilia no trato com suas emoções, ansiedade, depressão, autoestima entre outras inúmeras comorbidades (Lopez, Torrente, Ciapponi et al, 2018 cita De Souza, Da Silva 2021).
Estudos apontam que pessoas com TDAH podem apresentar comorbidades relacionadas a outro transtorno mental, emocional ou comportamental. Estatisticamente falando, 5 em cada 10 crianças om TDAH apresentaram um problema de comportamento ou conduta, 3 em cada 10 crianças TDAH manifestaram o transtorno de ansiedade (APA, 2014; CDC, 2018 cita De Souza, Da Silva 2021). Alguns dos transtornos apontados como comorbidades ao TDAH são o transtorno de oposição desafiante, Transtorno da Conduta, Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor, Transtorno Específico da Aprendizagem, Transtorno da Ansiedade, Transtorno Depressivo maior, transtorno explosivo intermitente, outros transtornos de personalidade, transtorno obsessivo compulsivo, os transtornos de tique e o transtorno do espectro autista (APA,2014).
Terapia cognitivo-comportamental – TCC
A Terapia Cognitiva inicialmente foi desenvolvida nos Estados Unidos, durante o período de 1959 até 1979 pelo psicanalista, professor e pesquisador Aaron Beck acompanhado de inúmeros colaboradores. Beck criou e sistematizou o padrão de Terapia Cognitiva (TC) inicialmente estudando pessoas depressivas. (Rangé,2011; Beck, 2013; Paula e Mognon, 2017 cita De Souza, Da Silva 2021).
A. Beck e colaboradores criaram a Terapia Cognitiva, atualmente também conhecida como Terapia Cognitivo-Comportamental. Beck foi pioneiro a formular por completo teorias e procedimentos para aplicar as intervenções cognitivas e comportamentais a transtornos emocionais (Wright, Basco e Thase, 2008; Beck, 2013 cita De Souza, Da Silva 2021).
A TCC é um modelo terapêutico que se destaca por possuir limitação de prazo, estruturação, foco na solução de problemas vigentes e na mudança de comportamentos e pensamentos que apresentam falhas em seus processos e estão, portanto, disfuncionais (Rangé, 2011; Paula e Mognon, 2017 cita De Souza, Da Silva 2021).
A TCC aponta que os fatos em si adquirem relevância conforme a pessoa os interpreta e isso atua sobre a maneira como ele se sente e se comporta. Foram identificadas cognições negativas e distorcidas (pensamentos e crenças) como núcleo da depressão nos estudos de Beck. Surgiu então, um tratamento de pequena duração, onde uma das metas principais era testar a realidade do pensamento depressivo do paciente (Rangé,2011; Beck, 2013). Conclui-se na pesquisa de Beck, que um mesmo evento, ocasiona reações diversificadas em diferentes sujeitos. E um mesmo sujeito, pode ter reações diversificadas a um mesmo evento em diferentes ocasiões ao longo de sua vida (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
TDAH e a Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
Quando avaliada a eficácia da TCC na redução dos sintomas do TDAH e transtorno de oposição desafiante (TOD) em crianças e adolescentes, através de um estudo de metanálise por Battagliese e colaboradores em 2015, notou-se uma redução importante nos sintomas de ambos os transtornos. (Neufeld, 2017 cita De Souza, Da Silva 2021).
Variáveis cognitivas e comportamentais impactam fortemente os sintomas do TDAH, estes são disfuncionais no dia a dia em ambientes diversificados e situações diversas. Os sucessivos fracassos, levam o indivíduo a gerar crenças negativas, sobre si mesmo, criando pensamentos automáticos (PA) disfuncionais, podendo acarretar evitações e distrações (Petersen e Wainer, 2011; Monteiro, 2014 cita De Souza, Da Silva 2021). Sintomas como a falta de atenção e dificuldades no controle do comportamento impulsivo, não são frutos de esquemas básicos ou sistemas de crenças disfuncionais, mas atingem a maneira como a pessoa percebe a sua competência social e domínio sobre a própria vida o que pode desencadear pensamentos automáticos (PA) que geram danos ao funcionamento adaptativo (Petersen e Wainer, 2011; Monteiro, 2014 cita De Souza, Da Silva 2021).
O TDAH é tido como uma patologia que possui dificuldades em resolver problemas, somadas a um quadro geral de imaturidade cognitiva, ao deparar-se com a necessidade de resolver problemas, a pessoa com o transtorno pode ter os quadros de atenção e comportamento alterados negativamente. (Knapp, 2004; Monteiro, 2014 cita De Souza, Da Silva 2021).
Elencar elementos cognitivos específicos como dificuldades quanto a flexibilização cognitiva, à fluidez verbal, memória de trabalho e controle inibitório comuns ao TDAH são importantes segundo neuropsicólogos, porque favorecem ao surgimento de modelos teóricos cognitivos importantes que esclarecem a sintomatologia (Petersen e Wainer, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Alguns modelos teóricos conhecidos são: a falha do controle inibitório, o cognitivo energético, aversão à demora e o de múltiplos déficits (Petersen e Wainer, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021). Mesmo o TDAH não possuindo bases biológicas, questões cognitivas e comportamentais afetam a evolução dos sintomas (Ribeiro, 2016 cita De Souza, Da Silva 2021). Durante o processo de psicoterapia o terapeuta deverá reconhecer quais as crenças centrais do sujeito, pois algumas podem estar imbricadas na falta de conhecimento sobre a doença. Os pacientes acreditam ser inaptos ou inúteis, necessitam aprender a julgar suas crenças e a tomar nova forma de ver sobre si mesmos (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
As patologias principais que circundam o TDAH podem se dividir em dois grandes grupos, em um o que se destaca são as distorções cognitivas e no outro as patologias relacionadas as deficiências cognitivas (Knapp e colaboradores, 2008 cita De Souza, Da Silva 2021).
Técnicas da TCC para o TDAH
Inúmeras técnicas da TCC estão sendo utilizadas no trato do TDAH, é importante ressaltar que a atual TCC lança mão de técnicas referentes as abordagens cognitivas e técnicas das abordagens comportamentais (Knapp e colaboradores, 2008; Rangé, 2011; Beck 2013 cita De Souza, Da Silva 2021).
Dentre as técnicas temos o treinamento de solução de problemas, repetição e verbalização de instruções, atividades interpessoais orientadas, treinamento de habilidades sociais, técnicas de manejo de contingências de reforço, treinamento com pais e familiares (Petersen e Wainer, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
As abordagens comportamentais colaboram com técnicas como: sistema de pontos, sistema de fichas, custo da resposta, punições, tarefas de casa, modelação e dramatização (Knapp e colaboradores, 2008; Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Algumas abordagens cognitivas elencadas por Knapp no trato do TDAH são, psicoeducação envolvendo os sujeitos e se necessário familiares/pais e escola, autoinstrução, registro de pensamentos disfuncionais, solução de problemas, auto monitoramento e autoavaliação, planejamento e cronogramas (Knapp, 2004 cita De Souza, Da Silva 2021).
O tratamento psicoterápico do TDAH envolve psicoeducação acerca do transtorno e seus efeitos o que envolve família e paciente, auxiliar o paciente a trabalhar seus déficits das funções executivas como a organização de tempo, manejo de problemas emocionais bem como, auxiliar o paciente no trato com sua baixa autoestima (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Outras técnicas utilizadas pela TCC são, empoderar o paciente para lidar com evitações e com os pensamentos negativos, treinar habilidades sociais, fortificar estratégias de enfrentamento e técnicas comportamentais para potencializar o funcionamento do indivíduo em campos prejudicados de sua vida. A participação dos pais/familiares e dos professores faz muita diferença no resultado terapêutico quando se refere a crianças (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Psicoeducação, treino de autoinstrução, treino de resolução de problemas, modelação e dramatização, auto monitoramento, planejamento e cronogramas, registro de pensamentos disfuncionais, treinamento de pais, orientação de professores é indicado ao público infantil (Knapp e colaboradores, 2008; Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Ao público adulto, sozinhos ou em grupos, indica-se a psicoeducação, planejamento e organização, enfrentamento da distratibilidade, reestruturação cognitiva (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
A conceitualização cognitiva envolve: diagnóstico clínico do paciente; identificação de pensamentos automáticos (PA), sentimentos e formas de agir frente a diversas situações do dia-a-dia que envolvam afeto e que possuam um significado valoroso para a pessoa (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
A conceitualização cognitiva envolve também, as crenças nucleares e intermediárias; formas compensatórias de agir que a pessoa lança mão para evitar contato com suas crenças negativas; dados importantes da história da pessoa que podem ter contribuído para a formação ou para o fortalecimento das crenças negativas (Rangé, 2011 cita De Souza, Da Silva 2021).
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e estre em Educação Renata Bringel, ministra os cursos Online Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil, TDAH, Avaliação e Intervenção entre outros. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site renatabringel.com.br
Referência:
DE SOUZA, Vanessa Silva; DA SILVA, Diego. Técnicas Utilizadas Para O Tratamento Do Transtorno De Déficit De Atenção E/Ou Hiperatividade (Tdah) Na Terapia Cognitivo-Comportamental (Tcc) 2021.