Operante Verbal – Tatear (ou comportamento de tacto)

Tatear é um operante verbal muito frequente na comunicação entre seres humanos. Ele compreende o comportamento de falar sobre si mesmo e sobre o mundo.
Tatear é um operante verbal muito frequente na comunicação entre seres humanos. Ele compreende o comportamento de falar sobre si mesmo e sobre o mundo.

Operante verbal

O comportamento operante é, grosso modo, aquele que altera o ambiente, sofrendo também o efeito das alterações ambientais por ele promovidas.  Esse efeito é basicamente a alteração na probabilidade de ocorrência futura da classe de respostas que integram o dado operante. O comportamento verbal é um tipo de comportamento operante: ele altera o ambiente e é modificado por essas alterações. Tatear é um operante verbal muito frequente na comunicação entre seres humanos. Ele compreende o comportamento de falar sobre si mesmo e sobre o mundo.

A diferença básica entre o comportamento verbal e os outros operantes (não-verbais) está no fato de que o comportamento verbal é um operante  cujas  consequências  não  guardam relações mecânicas, cujo o comportamento foi previamente treinado por uma comunidade verbal (DA SILVA BARROS 2003).

Comportamento Verbal

O comportamento verbal se constitui de boa parte da complexidade do comportamento humano.  A investigação do comportamento verbal tem sido, por essa razão, muito importante para a Análise do Comportamento.

Uma criança, desde muito pequena, aprende os nomes dos objetos, das pessoas e dos eventos. Em pouco tempo, não só domina um repertório vasto, como também produz construções verbais novas, ou seja, que não foram diretamente treinadas.   Ela pode nomear objetos novos ou propriedades desses objetos, combinando unidades já aprendidas. Este é apenas um dos indícios da complexidade envolvida no estudo do comportamento verbal. Apesar de complexo, o comportamento verbal pode ser compreendido através de análise funcional, ou seja, por meio do mesmo tipo de análise originalmente desenvolvida para atingir a compreensão e o controle de comportamentos mais  simples  e  essencialmente  motores.  A análise funcional do comportamento consiste na análise do comportamento em termos das relações com as consequências do responder (DA SILVA BARROS 2003).  

Categoria de operantes verbais

Considerando as fontes de controle do comportamento verbal, bem como seu efeito sobre o ouvinte, é possível identificar algumas categorias de comportamentos verbais como Tacto.

Tatear (ou comportamento de tacto): são respostas verbais, vocais ou motoras controladas  por   estímulos   discriminativos não-verbais  e  mantidas  por  consequências s  estabelecida), entre o estímulo discriminativo e a resposta. Um exemplo de comportamento de tacto é nomear eventos, objetos, pessoas. Por meio do tacto, as pessoas fazem contato (“tateiam”) com os mais variados aspectos e seu ambiente físico e social/cultural.   Portanto, com o tacto, descrevemos as propriedades dos elementos dos ambientes externo e interno à nossa pele.

São exemplos de tacto: “Eu me chamo Luciana e esta é minha simpática prima Mara”; “Este sorvete é de morango”; “Como o céu está estrelado”; “O livro de Catânia é mesmo muito fácil!”.  Observe que em todos estes casos, os operantes verbais emitidos nomeiam seres (Luciana, prima, Mara, sorvete) ou propriedades destes seres (simpática, estrelado) (DA SILVA BARROS 2003). 

Tacto ampliado: extensões metafóricas e metonímicas

O conceito de “estímulos”, em Análise do Comportamento, corresponde a aspectos do ambiente que exercem controle sobre comportamento.   Algumas vezes, esses “aspectos” do ambiente envolvem mais de uma propriedade física (cores, forma, espessura) e, nestes casos, são denominados estímulos compostos.   Um estímulo discriminativo pode ser um estímulo composto: um sinal de trânsito, por exemplo, pode ser um estímulo composto para um determinado sujeito (“luz vermelha” e “posição superior e tamanho maior entre as três luminárias” como propriedades controladoras da resposta de parar o automóvel).   Estímulos discriminativos compostos podem controlar respostas verbais de tacto. É interessante notar, que neste caso, cada uma das propriedades estímulo discriminativo composto pode passar a assumir separadamente o controle sobre o comportamento de tacto.  Assim, outro estímulo – que possua parte das propriedades do estímulo discriminativo original – pode controlar a resposta  de  tacto.  Esse é o tacto ampliado e por ele pode-se explicar parte da produtividade do comportamento verbal (DA SILVA BARROS 2003). 

Segue um exemplo: Desde muito cedo, Lia aprendeu a usar o tacto “picolé”. Quase todas as tardes, quando passeava com a mãe, encontrava algum garoto vendendo picolés. A mãe entregava à Lia um saboroso picolé e lhe ensinava com dedicação o tacto. No início, o comportamento de Lia era ecóico (ela apenas reproduzia vocalmente o estímulo produzido pela mãe); mas, em poucos dias, ela usava adequadamente o tacto: ela dizia “picolé ”quando lhe perguntavam “o que é isso? e apontavam para aquela deliciosa guloseima. Um dia, Lia viu um garoto caminhando pela rua com um isopor sobre a cabeça e o chamou (mando), dizendo “Ei, picolé!”. Observe que, no mando emitido por Lia, está incluso um tacto ampliado. O tacto “picolé” passou a ser controlado por outra dimensão do ambiente (o vendedor de picolés), que era parte das circunstâncias presentes quanto Lia aprendeu a tatear o estímulo   original,   o próprio picolé (DA SILVA BARROS 2003).   

Conceito de Tatear

Tatear (tact behavior). Os discriminativos controlados podem ser objetos, pessoas, acontecimentos, sensações, lembranças, isto é, mudanças no campo sensorial (visual, auditivo, tátil, proprioceptivo, interoceptivo, etc) do emitente. A resposta pode ser vocal ou motora (palavras ditas ou escritas, gestos), e a consequência é social, porém sui generis. Supõe uma identidade funcional entre as características da situação em que ocorre e as características da resposta; supõe que o ouvinte partilhe desse quadro de equivalências. A consequência social ocorre aqui, não porque estamos diante de uma situação didática, digamos assim, mas porque principalmente o ouvinte se beneficia pelo tatear do emitente. Isto é, o ouvinte reforça o emitente não apenas devido a um pacto social, mas principalmente porque lhe convêm que o emitente continue a prestar informações sobre o ambiente. Ex. diante de um animal o emitente diz o nome deste animal; diante da água que cai, diz que chove; diante de determinadas sensações, diz dor; diante de um buraco no chão diz dor ou perigo, etc. O nome da categoria expressa justamente o fato de que o ouvinte é posto em contato com o evento que controla o comportamento verbal do emitente. Tatos isolados podem ocorrer diante de estímulos isolados, como o verbal chove diante da água que cai; tatos aglomerados podem ocorrer diante de estímulos simultâneos, como o verbal tempestade diante da água que cai, acompanhada de raios e trovões, ou o verbal furacão se o acompanhamento inclui ventos fortes (Matos 1991).

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Referências:

DA SILVA BARROS, Romariz. Uma introdução ao comportamento verbal. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 5, n. 1, p. 73-82, 2003.

MATOS, Maria Amélia de. As categorias formais de comportamento verbal em Skinner. Anais da XXI Reunião Anual da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto, v. 1991, p. 333-341, 1991.

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