Desenvolvimento Motor
O desenvolvimento motor é o processo de mudanças no comportamento motor, implicando a maturação do sistema nervoso central, mas também a interação com o ambiente e com os estímulos oferecidos ao individuo durante o seu desenvolvimento. As transformações ocorrem de forma gradual e ordenada, sendo que uma alteração leva à outra. A relação do meio ambiente com o individuo e deste com o meio ambiente assume, aqui, uma acentuada importância (Haywood & Getchell 2004 cita REBELO 2020).
Segundo Santos, Dantas e Oliveira (2004), o Desenvolvimento Motor nos primeiros anos de vida caracteriza-se pela aquisição de um amplo repertório de habilidades motoras, que possibilita a criança um domínio completo do seu corpo em diferentes posturas, locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc…) e manipular objetos e instrumentos diversos (receber uma bola, arremessar uma pedra, chutar, escrever, etc…). Segundo o mesmo autor, essas habilidades básicas são requeridas para a condução de rotinas diárias em casa e na escola, como também servem como propósitos lúdicos, tão característicos na infância. A cultura requer das crianças, já nos primeiros anos de vida e particularmente no início de seu processo de escolarização, o domínio de várias habilidades (REBELO 2020).
Habilidades Motoras
As habilidades motoras são divididas em habilidades motoras globais e finas. As habilidades motoras globais, são controladas principalmente pelos grandes músculos ou grupos musculares. Esses músculos são essenciais para produzir uma série de movimentos, como andar, correr e saltar. As habilidades Motoras Finas são conduzidas principalmente pelos pequenos músculos ou grupos musculares, normalmente os movimentos realizados com as mãos são considerados finos, portanto, movimentos como, pegar, desenhar, costurar, digitar, ou tocar um instrumento musical são considerados movimentos finos.
Para Payne e Isaacs (2012) e embora os movimentos sejam frequentemente caracterizados como globais ou finos, muito poucos são completamente orientados pelos grupos musculares pequenos ou grandes. Por exemplo, a caligrafia é normalmente considerada um movimento fino, mas, como na maioria dos movimentos finos, á um componente motor grosso: os grandes músculos do ombro são necessários para posicionar o braço antes que o movimento mais sutil criado pelos músculos menores possa ser eficaz. Por sua vez o lançar, por exemplo, é considerado um movimento global, uma categorização lógica, porque, com base na observação, o envolvimento muscular mais significativo é do ombro e das pernas contudo os ajustes subtis e minuciosos do pulso e dos dedos são determinantes para uma precisão ideal. Um indivíduo pode ser capaz de realizar os aspectos motores globais necessários de um movimento, mas a habilidade pode não ser aperfeiçoada até que a pessoa adquira os componentes motores finos (REBELO 2020).
Habilidades Motoras Infantis
Segundo Sugden e Wade (2013) as crianças quando iniciam os movimentos, nomeadamente reflexos, os seus braços e pernas movem-se aparentemente ao acaso, mas com precisão necessária para controlar a postura, a locomoção e a manipulação. Sabemos agora que essas atividades “aleatórias” das crianças representam atividade diretamente relacionada ao desenvolvimento postural e à locomoção.
Aos 24 meses, as crianças desenvolvem controle postural suficiente para lidar com muitos ajustes posturais básicos, podendo caminhar, explorar, agarrar e manipular objetos de várias formas e tamanhos. Aos 24 meses ainda não conseguem lidar bem com os movimentos automáticos e rápidos em relação a objetos e outras pessoas em movimento, como tal requerem a assistência de outras pessoas para uma variedade de atividades motoras. Contudo pelos 36 meses a criança já será capaz de andar, correr, agarrar e manipular objetos até certo ponto, mas as habilidades motoras globais mais avançadas e as habilidades motoras finas ainda carecem de dificuldade (Sugden & Wade, 2013 cita REBELO 2020).
A falta do Ensino de Habilidades Motoras
Os estudos sobre esta faixa etária têm vindo a crescer no campo académico, no sentido de entender o dia-a-dia das crianças e se os seus profissionais desenvolvem práticas educativas de qualidade proporcionando às crianças um ambiente educativo favorecedor do seu desenvolvimento e aprendizagem. Entre esses estudos surgem Portugal (2010); Coelho (2004); Marchão (2003); Oliveira-Formosinho e Araújo (2013), que apresentam uma ideia comum: quando a creche desenvolve uma ação baseada em cuidados e interações educativo-pedagógicas de qualidade nos primeiros meses e anos de vida da criança o processo de desenvolvimento e aprendizagem flui com maior naturalidade. Contudo e relativamente a vivências, rotinas e práticas diárias das crianças, estas seguem as linhas orientadoras de cada educadora e respetiva instituição, e no que concerne à prática de atividade física e às habilidades motoras, estas não existiam de uma forma organizada e orientada. Já Eichmann (2014) concluiu que nestas idades as educadoras atribuíam especial relevo às rotinas diárias que envolvem o acolhimento, a higiene, alimentação e o momento do descanso. Nesse sentido Brito e Pinheiro (2014), referem que é de superior interesse a realização de mais investigação nesta área e nestas idades, porque apesar dos educadores de infância realizarem atividades físicas com as suas crianças, a verdade é que existe uma enorme discrepância conceptual quanto à designação a atribuir à atividade física assim como ao entendimento das habilidades motoras (REBELO 2020).
Vários estudos têm sido realizados com o objetivo de entender quais as variáveis que podem influenciar e/ou comprometer o processo de desenvolvimento motor da criança (Barros, Giuliani, Halpern, Horta & Victora 2000; Eikmann et al., 2007; Myers, Munier, & Pierce 2009; Foschiani, Milan, & Pretti 2010; Liu, Hoffmann & Hamilton, 2015; Vaamonde et al., 2018; Piallini et al., 2016; Rosa, García-Cantó, & Carrillo, 2018). Segundo Castro (2008), as variáveis género e idade influenciam o desempenho das habilidades motoras fundamentais. Dentro das variáveis gênero e idade, destacam-se os fatores relacionados com a especificidade das tarefas oferecidas à criança (Haydari, Askari, & Nezhad, 2009; Nobre et al., 2009; Kenny, Hillm, & Hamilton, 2016), assim como os fatores socioeconômicos e ambientais, que sendo estes pobres em oportunidades, potencializam atrasos no crescimento e desenvolvimento infantil (Eikmann et al., 2007; Hamadani et al., 2010; Alesi, Gómez-López, & Bianco, 2019). Considerando os tipos de estímulos oferecidos às crianças, autores como Pin, Eldridge, e Galea (2007) procuraram identificar as consequências do tipo de tarefas e atividades às quais a criança é exposta. As diferenças no desempenho e habilidades motoras entre crianças de gêneros diferentes tornaram-se alvo de preocupações, pois a indução de atividades específicas para cada gênero pode influenciar as aquisições motoras das crianças. Essas distinções, na maioria das vezes, são determinadas pelo contexto e pelas atividades que são propostas à criança, através de brinquedos e atividades impostas pelo padrão cultural considerado mais apropriado para cada um deles (Schwengber, 2009 cita REBELO 2020).
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra o curso Online Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil entre outros. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referência:
REBELO, Miguel. Desenvolvimento Motor da criança: Relação entre Habilidades Motoras Globais, Habilidades Motoras Finas e Idade: Desenvolvimento Motor: Relação entre Habilidades Motoras e Idade. Cuadernos de Psicología del Deporte, v. 20, n. 1, p. 75-85, 2020.