TEA
O TEA – transtorno do espectro autista é um transtorno do Neurodesenvolvimento. Caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Considerando que os sintomas mudam com o desenvolvimento, podendo ser mascarados por mecanismos compensatórios, os critérios diagnósticos podem ser preenchidos com base em informações retrospectivas, embora a apresentação atual deva causar prejuízo significativo. No diagnóstico do transtorno do espectro autista, as características clínicas individuais são registradas por meio do uso de especificadores (com ou sem comprometimento intelectual concomitante; com ou sem comprometimento da linguagem concomitante; associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental), bem como especificadores que descrevem os sintomas autistas (idade da primeira preocupação; com ou sem perda de habilidades estabelecidas; gravidade). Tais especificadores oportunizam aos clínicos a individualização do diagnóstico e a comunicação de uma descrição clínica mais rica dos indivíduos afetados. Por exemplo, muitos indivíduos anteriormente diagnosticados com transtorno de Asperger atualmente receberiam um diagnóstico de transtorno do espectro autista sem comprometimento linguístico ou intelectual (APA, 2013).
Ensino Incidental
Entende-se por ensino incidental (incidental teaching) “as interações entre um adulto e uma criança que ocorrem naturalmente em situações rotineiras, e que são usadas pelo adulto para transmitir novas informações ou prover a prática no desenvolvimento de novas habilidades” (Hart e Risley, 1975). Nos contextos incidentais, o controle da contingência se dá por meio da criança, a criança necessita apresentar interesse por um determinado estímulo, partindo desse interesse o manejo clínico ocorre. Rastreio, formas de mando e até comentários podem provocar um episódio incidental. Quando a criança escolher o estímulo reforçador, ela cria um ambiente propício para que o psicólogo possa intervir de forma eficaz, ensinando novoscomportamentos e até mesmo refinando um repertório já instaurado na criança (CASAGRANDE).
ABA e o Ensino Incidental
A partir das contribuições de Skinner (1957), diversas pesquisas têm sido realizadas ao longo das últimas décadas com objetivo de verificar sob quais condições o comportamento verbal e seus pré-requisitos podem ser estabelecidos em pessoas com TEA (LOVAAS, 1987; PARTINGTON; BAILEY, 1993; PARTINGTON et al., 1994; PETURSDOTTIR; CARR; MICHAELS, 2005; FIORILE; GREER, 2007; GREER; ROSS, 2008; KODAK; CLEMENTS, 2009; VARELLA, 2009; BETZ et al, 2011; KODAK; PADEN; DICKES, 2012 cita GUERRA, 2015). Esses estudos foram pautados na Análise do Comportamento Aplicada (ABA), dedicada ao estudo do comportamento humano socialmente relevante pela utilização de métodos científicos como descrição objetiva, quantificação, e controle experimental, sendo a experimentação utilizada para identificar as variáveis responsáveis pela mudança de comportamento (COOPER; HERON; HEWARD, 2007 cita GUERRA, 2015). Os resultados de tais pesquisas têm sido efetivos em sua maioria, demonstrando que quando os procedimentos de ensino são bem delineados, operantes verbais, podem ser ensinados para essa população.
Há diferentes tipos de ensinos, sendo alguns citados com maior frequência, como ensino por tentativas discretas, ensino naturalístico/incidental e pareamento estímulo-estímulo.
Breve Descrição do Ensino Incidental/Naturalístico
O ensino incidental é um procedimento no qual estímulos e eventos são organizados de forma contínua, durante atividades típicas do cotidiano da criança, na interação com pessoas e na prática dessas atividades. Nesses contextos, o mediador aumenta a probabilidade de respostas das crianças alterando a operação estabelecedora de interações específicas, motivando a criança a interagir (HSIEH; WILDER; ABELLON, 2011 cita Guerra 2015). Envolve, inicialmente, a organização do ambiente com uma variedade de estímulos potencialmente reforçadores; as iniciativas do aprendiz em relação a tais estímulos ou atividades preferidas são bloqueadas até que a resposta desejada seja emitida, seja um comportamento verbal ou outro de natureza social (FARMER-DOUGAN, 1994). O educando tem seu comportamento reforçado contingente e imediatamente após a apresentação da resposta-alvo (GUERRA 2015).
Ensino Incidental X Ensino por tentativas discretas
Algumas distinções entre o ensino incidental e por tentativas discretas foram realizadas: 1) O ensino por tentativas discretas é controlado pelo professor, que apresenta a instrução com intervalos entre as tentativas, já o incidental é iniciado pelo aprendiz, que solicita itens preferidos; 2) O ensino por tentativas discretas ocorre em situações em que aprendiz e mediador estão sentados em um ambiente planejado com mínimas distrações, enquanto o incidental ocorre em contextos de outras atividades que oferece itens de interesse e com outros eventos ou atividades concorrentes; 3) Na tentativa discreta o estímulo usado no ensino é selecionado pelo professor e não há necessidade que os estímulos consequentes tenham relação com os estímulos de ensino; no ensino incidental os itens são selecionados pelo educando, e o consequente acesso a esses itens é usado como reforçador; e 4) em relação às dicas fornecidas, na tentativa discreta o uso de dicas padrão é utilizado até a criança alcançar o critério de respostas corretas, e no incidental as dicas variam de acordo com a resposta inicial da criança (MCGEE; KRANTZ; MCCLANNAHAN, 1985 cita Guerra2015). Embora existam diferenças significativas entre os dois tipos de ensino apresentados, pesquisas tem demonstrado a efetividade de ambos para ensino de repertórios verbais (Guerra 2015).
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
CASAGRANDE, Ludmila et al. IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DE PRÉ-REQUISITOS EM CONTEXTOS INCIDENTAIS ENQUANTO ESTRATÉGIAS PARA DIMINUIR BARREIRAS EM CONTEXTO DE ENSINO ESTRUTURADO. A clínica e suas interfaces com a Justiça, p. 99.
GUERRA, B, T. Ensino de Operantes Verbais e requisitos para o Ensino por Tentativas Discretas em Crianças Do Espectro Autista (TEA). Bauru, 2015.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.