Comportamento Verbal
Skinner (1992/1957) propôs uma formulação funcional para a explicação da linguagem que foi de encontro às principais formulações tradicionais da época. Na sua proposta, ele optou por utilizar termos que evitassem possíveis conotações mentalistas pré-estabelecidas por seu uso em outras áreas ou na linguagem cotidiana. Por essa razão, escolheu usar o termo “comportamento verbal”, ao invés de “linguagem” ou “fala”, apontando como vantagens a ênfase no comportamento do falante individual e a possibilidade de uma análise a partir dos mesmos processos e procedimentos já existentes na Análise do Comportamento.
Skinner propôs um tratamento funcional da linguagem, definindo comportamento verbal como comportamento estabelecido e mantido por consequências mediadas, fornecidas por um ouvinte especialmente treinado por uma comunidade verbal. Também apresentou uma taxonomia desse tipo de comportamento: operantes primários – mando, tato, ecoico, intraverbal, transcrição e textual – e secundário – autoclítico.(DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
Comportamento autoclítico: Principais Características e Definição
Skinner (1992/1957) apontou que, para além dos operantes verbais primários, existem respostas verbais relacionadas com a organização, edição, manipulação e seleção de comportamento verbal que também podem ser tratadas nos termos da proposta de análise funcional do comportamento verbal apresentada por ele. Essas respostas verbais são tratadas, dentro da semântica, em termos da “intenção do falante”, um tipo de tratamento incompatível com uma análise funcional. Além delas, essa categoria contém respostas relacionadas a aspectos gramaticais em si como: uso de plurais concordância verbal, de número e gênero, entre outras. A questão colocada por Skinner é: como proceder a uma análise funcional desses tipos de resposta sem apelar para elementos representacionais ou intencionais?
Skinner (1992/1957) propõe, em primeiro lugar, que aqueles tipos de respostas são operantes e, portanto, passíveis de estudo pela Análise do Comportamento a partir de seus processos e procedimentos. Em segundo lugar, Skinner reconhece que conjuntos de respostas podem se tornar variáveis de controle de outros conjuntos e, para que isso ocorra, devem existir no mínimo dois sistemas de respostas, um sob o controle do outro.
A partir desse segundo ponto, já se tem o esboço de uma definição de comportamento autoclítico. Sua primeira característica é, portanto, ser comportamento verbal que age sobre outro comportamento verbal do próprio falante. O comportamento autoclítico é tido como um operante de segunda ordem exatamente por essa característica. Ele só faz sentido na presença de qualquer um dos demais operantes verbais primários. O papel do autoclítico é rearranjar, combinar e transformar material verbal primário (Catania, 1980; Souza, Miccione, & Assis, 2009 cita DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
Classificações para Comportamento Autoclítico
Skinner (1992/1957) descreve cinco tipos de comportamento autoclítico: descritivo, qualificador, quantificador, relacional e manipulativo:
Autoclíticos descritivos
O comportamento autoclítico descritivo informa o ouvinte sobre as condições nas quais o falante emite o operante verbal primário e/ou sobre as variáveis controladoras do comportamento do próprio falante. Dessa forma, como afirma Catania (1980), esse tipo de autoclítico está sob controle discriminativo das condições sob as quais o operante verbal primário ocorre. Algumas dessas condições são categorizadas e descritas por Skinner (1992/1957) e formam quatro grupos.
O primeiro grupo refere-se à autoclíticos que informam ao ouvinte a classe de operante verbal primário que acompanha. Por exemplo, alguém, na presença de chuva, pode emitir a resposta: “Eu vejo que está chovendo”; a parcela “eu vejo” indica para ouvinte que o operante verbal primário tem grande probabilidade de ser um tato. Contudo o falante pode emitir a mesma topografia “eu vejo”, em outras condições, por exemplo, ao ler uma notícia sobre o tempo no jornal. Nesse caso, o “eu vejo” indicaria que o operante verbal primário é textual.
O segundo grupo de autoclíticos descreve o estado de força na qual a resposta verbal é emitida. Sentenças do tipo: “Eu tenho certeza disso”, “Eu acho que sim” ou “Eu imagino que sim” contêm respostas (e.g., certeza, acho, imagino) que descrevem para o ouvinte se a relação que está sendo descrita pelo falante está bem estabelecida ou não e/ou se as variáveis de controle são percebidas ou não.
O terceiro grupo de autoclíticos descreve relações entre a resposta e outra resposta verbal do falante, ou outras circunstâncias sob as quais o comportamento do falante é emitido. Fazem parte desse grupo respostas do tipo “Eu admito”, “Eu concordo”, “Eu confesso”, entre outras. Essas respostas permitem ao ouvinte relacionar o que está sendo dito com o que foi dito anteriormente ou com as circunstâncias nas quais está sendo dito.
Por fim o quarto grupo descreve condições motivacionais ou emocionais do falante. Exemplos são “Eu fico feliz em te dizer” ou “Lamento informar”. Essas respostas indicam o estado motivacional ou emocional do falante em razão de determinadas circunstâncias. Provavelmente, essas condições afetarão ou criarão um estado motivacional ou emocional semelhante no ouvinte, como fazem no falante (DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
Autoclíticos qualificadores
Os autoclíticos qualificadores têm a função de qualificar o tato de forma que a intensidade ou a direção do comportamento do ouvinte é modificada (Skinner, 1992/1957). A definição desse tipo de autoclítico apresenta uma característica peculiar, pois sua ocorrência é basicamente restrita ao operante verbal tato. Skinner (1992/1957) divide os autoclíticos qualificadores em duas grandes categorias: (1) negação e (2) asserção. Na negação, discute as respostas verbais “não” e suas derivações (“nada”, “nunca”) e, na asserção, as respostas “sim” e o verbo “ser” nos diferentes tempos verbais (e.g., “é”, “era”) (DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
Autoclíticos quantificadores
Os autoclíticos quantificadores têm a função de quantificar eventos ou propriedades deles, permitindo uma reação adequada do ouvinte. Fazem parte dessa categoria alguns pronomes indefinidos e artigos. As sentenças “Traga-me o livro” e “Traga-me um livro” possivelmente têm efeitos distintos sobre o ouvinte; a primeira diz respeito a um livro específico, e a segunda a qualquer livro, logo o ouvinte poderá emitir comportamentos diferentes a depender de cada uma delas (DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
Autoclíticos relacionais e manipulativos
Os autoclíticos relacionais têm a função de estabelecer conexões entre operantes verbais básicos na formação de amplas amostras de comportamento verbal. Nessa categoria, entram algumas categorias formais da gramática como sufixos indicadores de plural, relações de posse, conjunções, preposições, concordância de número e de gênero, pontuação, entonação, entre outras.
Elementos sintáticos, como a ordem de um grupo de respostas, também são considerados por Skinner (1992/1957) como autoclíticos relacionais. De acordo com o autor, a predicação contém autoclítico relacional de ordem, pois envolve, no mínimo, dois elementos que se relacionam em uma dada sequência, além de elementos de asserção. Na sentença “Maria é alta”, têm-se dois tatos para o mesmo evento do mundo, “Maria” e “alta”; a sentença é dita, geralmente, nessa sequência, e dificilmente ocorre ao inverso. A ordem o agrupamento de respostas é tida, então, como autoclítico relacional.
Embora Skinner (1992/1957) tenha apresentado uma categoria chamada “autoclíticos manipulativos”, eles nada mais são do que a própria ordenação e/ou agrupamento de amostras de comportamento verbal, que, a depender dessas características, produzem efeitos distintos sobre o ouvinte. Por exemplo, as sentenças “Eu limpei tudo, exceto a cozinha” e “Eu ainda preciso limpar a cozinha”, embora sejam emitidas mediante o mesmo conjunto de eventos, enfatizam aspectos diferentes. Na primeira, a ênfase está no trabalho que já foi realizado (“Eu limpei tudo”) e, na segunda, no trabalho ainda por fazer (“Eu ainda preciso limpar”). Ordenação e agrupamento são especialmente importantes na edição e composição (DOS SANTOS, DE SOUZA, 2017).
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Referências:
DOS SANTOS, Bruna Colombo; DE SOUZA, Carlos Barbosa. Comportamento autoclítico: Características, classificações e implicações para a Análise Comportamental Aplicada. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 19, n. 4, p. 88-101, 2017.