Desenvolvimento Motor
A experiência motora propicia o amplo desenvolvimento dos diferentes componentes da motricidade, tais como a coordenação, o equilíbrio e o esquema corporal. Esse desenvolvimento é fundamental, particularmente, na infância, para o desenvolvimento das diversas habilidades motoras básicas como andar, correr, saltar, galopar, arremessar e rebater. No entanto, embora o desenvolvimento motor infantil não ocorra de forma linear, é fundamental que se ofereça à criança um ambiente diversificado, de situações novas e que propicie meios diversos de resolução de problemas, uma vez que o movimento se apresenta e se aprimora por meio dessa interação, das mudanças individuais com o ambiente e a tarefa motora (MEDINA-PAPST; MARQUES, 2010).
A maioria das crianças com Dificuldades de Aprendizagem também apresentam comprometimento nos componentes do desenvolvimento motor.
Dificuldade de Aprendizagem
O ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiência). A partir desse conceito de aprendizagem, pode-se dizer que dificuldades para a aprendizagem são resultados de alguma falha intrínseca ou extrínseca desse processo, ou de ambas. Dificuldades para a aprendizagem é um termo genérico que abrange um grupo heterogêneo de problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender, independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo (Rotta2015).
A importância de atenção no Aprendizado
A atenção é o mecanismo pela qual interagimos com o meio que nos cerca. Ela é o elemento mais importante no processo de aprendizagem que de nada adianta planejar a introdução de um novo conteúdo, preparar rico material audiovisual, programar a sequência de atividades, se não tiver o indivíduo participando atentamente do processo.
Os psicólogos e pesquisadores Dr.Paul Morris Fitts Jr e Dr. Michael I. Posner do Departamento de Psicologia da Universidade de Oregon publicaram o livro “Human Performance” (Desempenho Humano) em 1967. Um estudo de medição quantitativa das capacidades humanas de perceber, atender, raciocinar e agir. Nesse estudo eles relatam que o indivíduo que está aprendendo algo novo, passa por 3 estágios: primeiro estágio (Cognitivo), segundo (Associativo),e o terceiro e último estágio (Autônomo):
Estágio Cognitivo: As principais características do estágio inicial da aprendizagem são a ocorrência de um grande número de erros e muita variabilidade na “performance”. Estes erros, na sua maioria são de natureza grosseira, ou seja, após adquirirmos a habilidade, notamos que eles poderiam ser corrigidos com relativa facilidade. Erros constantes e variabilidade na “performance” produzem uma grande sobrecarga nos mecanismos da atenção do indivíduo. Ele é capaz de perceber que está fazendo algo de errado, porém não consegue solucionar o problema e melhorar a “performance”. Isto faz com que o esforço cognitivo neste estágio seja muito grande e em termos da atenção, o indivíduo está tentando atender a tudo que o professor fala.
Estágio Associativo: Após certo período de prática, o indivíduo já é capaz realizar a atividade com mais facilidade, dominando a mecânica básica do movimento. A quantidade de erros diminui acentuadamente e o indivíduo já consegue detectar alguns deles, concentrando-se no que precisa fazer para refinar o movimento e consequentemente, reduzindo a variabilidade entre as tentativas. A carga nos mecanismos da atenção é moderada, o que facilita o desempenho, pois o indivíduo é capaz de direcionar a atenção para outros aspectos da “performance”.
Estágio Autônomo: Para se atingir o estágio autônomo, ou seja, realizar a atividade automaticamente, o indivíduo deverá tê-la praticado consideravelmente. A complexidade da atividade está diretamente relacionada à quantidade de prática necessária para atingirmos a automaticidade. Neste estágio, o indivíduo realiza a atividade “sem pensar”, ou aprende a realizar o movimento concentrando-se nos pontos críticos, nas partes mais difíceis. Ele agora consegue detectar vários erros, corrigindo-os. A variabilidade na “performance” é pequena e a carga nos mecanismos da atenção é muito baixa, facilitando o direcionamento do foco da atenção para outros itens relevantes à realização da tarefa..
Interação entre Restrições do Desenvolvimento Motor e Aprendizado
Segundo o Dr. Karl Newell, Ph.D. e Membro do Comitê Consultivo Externo Centro de Pesquisa em Variabilidade do Movimento Humano da Universidade de Geórgia – EUA, a aquisição de habilidades motoras quer sejam aquelas consideradas grossas, que envolvem a participação de todo o corpo, ou aquelas consideradas finas, que requerem precisão ao atingir a meta e aprendizado, ocorrem na interação das restrições do organismo, do ambiente e da tarefa:
Restrições do Organismo: As restrições do organismo dizem respeito às características físicas e funcionais do organismo, incluindo peso, altura, força, resistência cardiovascular, preferência manual, capacidades perceptivas e cognitivas, etc. Dentre as restrições físicas, o peso e altura são indicadores do grau de nutrição, com sérias consequências para o desenvolvimento das crianças em idade escolar.
Restrições do Ambiente: As restrições do ambiente referem-se ao ambiente físico e social, incluindo a força da gravidade, temperatura, disponibilidade de ambiente para a prática desportiva, acesso aos meios de comunicação, etc.
Restrições da Tarefa: As restrições da tarefa são aquelas relacionadas aos seus requisitos ou objetivos específicos, como por exemplo, à distância e a largura do alvo no arremesso ou chute de uma bola, o uso da letra cursiva ou de fôrma, a frequência da música que deve ser acompanhada com palmas, etc. Frente à tarefa a realizar o executante busca a solução para o problema motor que melhor harmonize as restrições de seu organismo, do ambiente e da tarefa.
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra o curso online DISLEXIA Avaliação e Intervenção entre outros. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
Ladewig I. A importância da atenção na aprendizagem de habilidades motoras. Rev paul educ física 2000;14(supl.3):62-71.
Fltts P M & Posner M I. Desempenho humano. Belmont, CA: Brooks / Cole, 1967. 162 p.
MEDINA-PAPST, J.; MARQUES, I. Avaliação do desenvolvimento motor de crianças com dificuldades de aprendizagem. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 12, n. 1, p. 36-42, 2010.
NEWELL, K. M. Constraints on the development of coordination. In: WADE, M. G., WHITING, T. A. (Ed.), Motor Development in Children: aspects of coordination and control. Netherlands: Nijhoff, 1986. p. 341 – 360.
https://grants.hhp.uh.edu/clayne/HistoryofMC/Newell1986.pdf
ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; DOS SANTOS RIESGO, Rudimar. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Artmed Editora, 2015.