Definição de Linguagem
Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição – American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) em novembro de 1982 definiu que a linguagem é um sistema complexo e dinâmico de símbolos usados de formas distintas para exprimir pensamentos em comunicação, sendo, então, um conjunto de regras socialmente compartilhadas por um determinado grupo. Pelo fato de a aprendizagem da linguagem ser determinada pela interação de fatores biológicos, cognitivos, sociais e ambientais, sua utilização evolui por meio de contextos históricos, sociais e culturais, necessitando de uma ampla compreensão da interação humana, incluindo aspectos não verbais, motivação e papéis socioculturais.
Transtorno de Linguagem
A linguagem é o principal meio de comunicação entre os seres humanos, por ser a forma mais fácil de interação. Qualquer falha na linguagem pode causar problemas no relacionamento social e no desenvolvimento intelectual.
O Transtorno de linguagem é caracterizado como dificuldade de compreensão e/ou utilização da fala, escrita e/ou outros sistemas de símbolos, como a forma (fonologia, morfologia, sintaxe) e o conteúdo (semântica) ou em qualquer combinação que gere comunicação.
Ademais, o desenvolvimento da linguagem está associado não apenas às condições biológicas, mas também a fatores ambientais, como os associados à família e à escola, já que tais ambientes são responsáveis por garantir segurança e bem-estar ao indivíduo, assegurando-lhe adaptação, desenvolvimento, estimulação e integração social. Nesse contexto, são notórios os distúrbios que afetam a linguagem, causando baixo rendimento acadêmico, isolamento social e retardo no desenvolvimento cognitivo, que acabam sendo responsáveis pelo prejuízo do desenvolvimento psicológico da criança, podendo gerar significativos transtornos emocionais e de conduta (LÓSS2020).
A descoberta precoce de dificuldades de aprendizagem, atrasos na aquisição da linguagem, alteração no processo de desenvolvimento da expressão e da recepção verbal e/ou escrita pode evitar futuros prejuízos no desenvolvimento infantil.
Transtorno de Linguagem no DSM-V
O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) apresenta os seguintes:
Critérios Diagnósticos para Transtorno de Linguagem:
A – Dificuldades persistentes na aquisição e no uso da linguagem em suas diversas modalidades (i.e., falada, escrita, linguagem de sinais ou outra) devido a déficits na compreensão ou na produção, inclusive:
1. Vocabulário reduzido (conhecimento e uso de palavras).
2. Estrutura limitada de frases (capacidade de unir palavras e terminações de palavras de modo a formar frases, com base nas regras gramaticais e morfológicas).
3. Prejuízos no discurso (capacidade de usar vocabulário e unir frases para explicar ou descrever um tópico ou uma série de eventos, ou ter uma conversa).
B – As capacidades linguísticas estão, de forma substancial e quantificável, abaixo do esperado para a idade, resultando em limitações funcionais na comunicação efetiva, na participação social, no sucesso acadêmico ou no desempenho profissional, individualmente ou em qualquer combinação.
C – O início dos sintomas ocorre precocemente no período do desenvolvimento.
D – As dificuldades não são atribuíveis à deficiência auditiva ou outro prejuízo sensorial, a disfunção motora ou a outra condição médica ou neurológica, não sendo mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento.
Diagnóstico Diferencial para Transtorno de Linguagem:
A – Variações normais na linguagem. O transtorno da linguagem deve ser diferenciado das variações normais do desenvolvimento, distinção esta que pode ser difícil antes dos 4 anos de idade. Variações regionais, sociais ou culturais/étnicas da linguagem (p. ex., dialetos) devem ser consideradas quando a pessoa está sendo avaliada para prejuízo da linguagem.
B – Deficiência auditiva ou outra deficiência sensorial. Deficiência auditiva deve ser excluída como a principal causa das dificuldades linguísticas. Os déficits de linguagem podem estar associados a deficiência auditiva, a outro déficit sensorial ou a déficit motor da fala. Quando as deficiências linguísticas excedem as habitualmente associadas a esses problemas, um diagnóstico de transtorno da linguagem pode ser feito.
C – Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual). Atraso na linguagem costuma ser a forma como se apresenta uma deficiência intelectual, e o diagnóstico definitivo só pode ser dado quando a criança puder realizar avaliações padronizadas. Um diagnóstico separado só é dado quando os déficits linguísticos claramente excedem as limitações intelectuais.
D – Distúrbios neurológicos. Transtorno da linguagem pode ser adquirido associado a doenças neurológicas, inclusive epilepsia (p. ex., afasia adquirida, ou síndrome de Landau-Kleffner).
E – Regressão da linguagem. Perda da fala e da linguagem em criança com menos de 3 anos de idade pode sinalizar transtorno do espectro autista (com regressão do desenvolvimento) ou uma condição neurológica específica, como a síndrome de Landau-Kleffner. Entre crianças com mais de 3 anos, a perda da linguagem pode ser sintoma de convulsões, havendo necessidade de avaliação diagnóstica que exclua presença de epilepsia (p. ex., eletrencefalograma de rotina e em sono).
Fatores de Risco e Prognóstico
Crianças com prejuízos na linguagem receptiva têm pior prognóstico que aquelas em que predominam prejuízos expressivos. São mais resistentes ao tratamento, e dificuldades de compreensão da leitura são frequentemente observadas. Genéticos e fisiológicos. Os transtornos da linguagem são altamente herdáveis, e membros da família têm maior propensão a apresentar história de prejuízo na linguagem.
Comorbidade
O transtorno da linguagem está fortemente associado a outros transtornos do neurodesenvolvimento em termos de transtorno específico da aprendizagem (leitura, escrita e aritmética), transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno do espectro autista e transtorno do desenvolvimento da coordenação. Está, ainda, associado a transtorno da comunicação social (pragmática). História familiar positiva de transtornos da fala e da linguagem costuma estar presente.
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Referência:
LÓSS, Juliana da Conceição Sampaio et al. Distúrbios que afetam a linguagem. Interfaces da LINGUAGEM, p. 220.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.