Evolução do Desenvolvimento da Função Manual
Desde os tempos primitivos, a mão humana tem se desenvolvido para nos diferenciar dos primatas. O dedo polegar humano é mais longo que no chimpanzé ou gorila e é posicionado ligeiramente mais afastado dos outros quatro dedos, portanto em posição contrária, possibilitando maior rotação. O movimento do dedo polegar juntando contra o dedo indicador é conhecido como movimento de pinça. Este movimento permite ao ser humano pegar objetos de diferentes tamanhos com a mesma eficácia.
Esta sensível alteração anatômica faz parte dos Marcos do Desenvolvimento da Função Manual, possibilitando as mãos humanas, executarem atividades diversificadas como, a utilização de ferramentas como a lança, machado, utilizar agulhas e linha, acalmar uma criança, pintar uma obra-prima ou tocar uma música em um piano ou violino.
Desenvolvimento Infantil da Função Manual
Durante os primeiros meses de vida da criança as mãos adquirem múltiplas funções e habilidades. O Desenvolvimento Infantil da Função Manual depende de vários fatores, como a percepção visual, a capacidade motora global da criança e a coordenação óculo-manual.
A coordenação óculo-manual é o trabalho das mãos aliado ao campo de visão.
A coordenação óculo-manual, também conhecida como coordenação visomotora, está precisamente ligada à coordenação motora fina, tornando-se um conjunto que se complementam. A coordenação motora fina é a movimentação de pequenos músculos, referentes aos movimentos de mãos e dedos.
Marcos do desenvolvimento Motor e da função Manual
Conforme o Sistema nervoso Central se desenvolve e integra-se com o controle da posição dos olhos, da cabeça e da correta coordenação do sistema motor ocular, a criança desenvolve a capacidade de fixação, coordenação manual e de aprendizagem.
A evolução da preensão (pegar o objeto) na criança, de recém-nascida aos onze meses de idade, segue padrões motores determinados em três estágios de desenvolvimento segundo a Dra. Pessia Grywac Meyerhof graduada pela USP, especialista em tratamento neuro-evolutivo:
- Reflexo de preensão: a criança fecha a mão ao se colocar um estímulo na palma, iniciando desde recém-nascido, e finalizando aos 3/4 meses.
- Alcance: movimentos dos membros superiores em direção a um objeto:
- Aos 3/4 meses, a criança em decúbito dorsal possui o seu ombro mais estável, levando todo o membro superior à região dos olhos.
- Aos 5/8 meses, o complexo ombro encontra-se ainda mais estável, permitindo o cotovelo fazer a extensão e alcançar objetos mais distantes.
- Aos 9/12 meses, o bebê já domina a posição sentada, e apresenta maior estabilidade das articulações do ombro, cotovelo, punho e mãos. Nessa idade, a criança já se locomove engatinhando e/ou andando com ou sem ajuda física, alcançando o objeto de seu interesse.
- Preensão ou Grasp: é definida quando a mão segura o objeto. É dividida em quatro períodos, sendo eles:
- 1º Período – Preensão Cúbito Palmar: é visível aos quatro meses, a criança pega o objeto com região distal do quinto dedo e a eminência tenar.
- 2º Período – Preensão Palmar Simples ou de Aperto: está entre o quinto e sexto mês, o objeto é pego e segurado com os últimos quatro dedos e a palma da mão, com adução do polegar. Nessa fase, a criança começa a passar o objeto de uma mão para outra.
- 3o Período – Preensão Radio-Palmar: observada entre o sétimo e oitavo mês, o polegar entra em ação, permitindo a pinça em chave. As mãos manipulam o brinquedo com mais domínio do pegar, soltar, bater um objeto no outro.
- 4º Período – Preensão Radio-Digital: a partir de 9 meses, o alcance é direto e preciso, porém ainda requer treino com brincar de objetos pequenos como pegar o alimento e levar à boca.
Marcos do desenvolvimento da função Manual
Principais indicadores relacionados ao desenvolvimento da função manual em crianças de zero a três anos:
IDADE: 1° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Mãos comumente fechadas; presença do reflexo de preensão palmar/ aperta firmemente um dedo que lhe é oferecido.
IDADE: 2° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Abre e fecha as mãos espontaneamente.
IDADE: 3° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Descoberta das mãos / leva as mãos à boca, podem ocorrer as primeiras tentativas de alcance dos objetos. Transição entre a preensão reflexa e voluntária / agarra o lençol e puxa-o para si.
IDADE: 4° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Preensão voluntária, tipo Cúbito Palmar (envolvimento principalmente da região ulnar da palma da mão, sem oponência do polegar). Pega objetos e leva-os à boca.
IDADE: 5° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Preensão Cúbito Palmar.
IDADE: 6° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Preensão Palmar Simples ou de Aperto. Amplia exploração dos objetos: bate, balança, puxa (com mais intencionalidade), transfere objetos de uma mão para outra.
IDADE: 7° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Preensão rádio-palmar, permitindo a pinça inferior ou em chave (preensão fina). Derruba os objetos voluntariamente. Segura pequenos objetos na palma da mão, os dedos em “forquilha”. Consegue segurar um objeto em cada mão.
IDADE: 8° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Pinça inferior, inicia o soltar.
IDADE: 9° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Começa a aprender a dar o objeto quando solicitado. Preensão Radio-Digital ou em pinça superior; segura pequenos objetos entre o polegar e dígito de outros dedos.
IDADE: 10° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Dissocia movimento do indicador (“dedo tateador”). Retira e coloca objetos de um recipiente, inicia uso do copo.
IDADE: 11° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Preensão digital.
IDADE: 12° mês INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Realiza pinça fina (preensão entre o dígito do polegar e indicador), solta os objetos quando solicitado, realiza encaixes amplos, lança a bola em uma direção.
IDADE: 12 a 24 meses INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Segura copo, inicia uso da colher. Empilha objetos.
IDADE: 24 a 36 meses INDICADOR DE DESENVOLVIMENTO: Consegue carregar um copo cheio de água sem derramá-lo. Imita linhas e círculos, arremessa bola, enfia contas grandes em um cordão, vira maçanetas em portas, vira uma página por vez de um livro, manuseia brinquedos de encaixe por pressão, segura lápis entre o polegar e o indicador, apoiando-o sobre o dedo médio.
Na avaliação, inicialmente é importante fazer uma observação do comportamento da criança durante a atividade espontânea, a partir de uma situação lúdica é importante dar tempo para a criança e respeitar seu ritmo, valorizando as soluções naturais que encontra para aprimorar seu desempenho. Ao mesmo tempo em que a equipe avalia, discutem-se suas observações com a família e ouvem sua experiência do dia-a-dia.
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
GRIMALDI, Stella; BENEDICTO, Vanessa Uliana. PSICOMOTRICIDADE NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 3 ANOS. Epitaya E-books, v. 1, n. 3, p. 21-30, 2021.
MEYERHOF, P. G. O Desenvolvimento Normal da Preensão. Rev. Bras. Cresc. Des. Hum., Sao Paulo, IV(2) 1994
NAKAURA, Micheli H.; RIHEIRO, Paulo A.; PORTO, Mônica RS. Avaliação do desenvolvimento da preensão manual em crianças de 4 a 12 meses. Journal of Human Growth and Development, v. 14, n. 1, 2004.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce : crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
World Civilizations I da Washington State University
https://old-www.wsu.edu/gened/learn-modules/top_longfor/phychar/09_hands.html
https://www.escavador.com/sobre/976562/pessia-grywac-meyerhof