Sob um olhar da constituição psíquica a identificação precoce de problemas no desenvolvimento infantil está sendo cada dia mais utilizado por profissionais da saúde e da educação. Instrumentos para pensar em estratégias de intervenções e uso de tratamentos adequados e eficazes são fundamentais.
O IRDI (Indicadores de Riscos para Desenvolvimento Infantil) é um instrumento, criado no Brasil, para identificar o índice de risco no desenvolvimento infantil e sinal precoce de sofrimentos psíquicos. É importante observar nas avaliações de riscos no desenvolvimento infantil, muitas vezes causado pela falta de sintonia com seus cuidadores, problemas psíquicos. O método IRDI aprimora os conhecimentos do profissional que o utiliza, no conhecimento da relação entre bebê e cuidador. Também pode ser usado no rastreio de risco de TEA.
Criação do IRDI
Em 1998 o Ministério da Saúde do Brasil iniciou uma revisão do manual – Saúde da criança: Acompanhamento para o crescimento e desenvolvimento infantil, com o intuito de incluir nele indicadores de desenvolvimento psíquico.
Maria Cristina Kupfer, psicanalista e docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP) foi convidada a coordenar os estudos de pesquisa. A Dra. Maria Cristina organizou o Grupo Nacional de Pesquisa (GNP). Um grupo de psicanalistas especialistas que pesquisou por oito anos protocolos de Indicadores de Riscos para Desenvolvimento Infantil (IRDI).
Os resultados desses estudos foram validados e publicados em 2009. Os Indicadores de Risco para Desenvolvimento Infantil (IRDI) passaram a ser inclusos, paulatinamente, na nova versão do manual do Ministério da Saúde a Caderneta de Saúde da Criança. Essa Caderneta tornou-se o principal documento de orientação da puericultura no Brasil modificando-se a cada nova edição. O IRDI é utilizado para o desenvolvimento de práticas de políticas publicas no Brasil e tornou-se um instrumento independente.
IRDI na prática
O IRDI não é um questionário a ser aplicado, é um instrumento de leitura. Deve haver uma formação com conhecimento teórico de psicanálise e das características do TEA para sua aplicação e analise das respostas. A pessoa que o aplicar, deve sempre observar a relação mamãe/cuidador e bebê e a conversa com a mãe ou cuidador durante a entrevista, conhecer a dinâmica familiar q o bebê está inserido para orientar um treinamento parental para auxiliar no tratamento.
O IRDI foi criado a partir de quatro eixos com bases psicanalíticas; estabelecimento de demanda, suposição do sujeito, alternância Presença/Ausência e função paterna. As questões desenvolvidas a partir desses quatro tópicos estão divididas em 31 indicadores e deve ser usado em crianças de 0 a 18 meses.
Primeira parte: Aplicar em crianças de 0 a 4 meses – 5 questões
Segunda parte: Aplicar em crianças de 4 a 8 meses – 8 questões
Terceira parte: Aplicar em crianças de 8 a 12 meses – 9 questões
Quarta parte: Aplicar em crianças de 12 a 18 meses – 9 questões
IRDI e o Treinamento parental
A paternidade quando acontece não vem com manual de instrução. O aprendizado acontece com o tempo. Alguns pais procuram ajuda de profissionais, pois a tarefa é complexa. Em caso de crianças com alguma deficiência no desenvolvimento a dificuldade e os cuidados aumentam, na maioria dos casos requer atenção constantemente. O meio é o primeiro contato da criança com a realidade. O ambiente familiar é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do bebê.
Com o resultado de pesquisas foi possível observar que, com a utilização do método IRDI– Indicadores de Riscos para Desenvolvimento Infantil, apesar dele não ser específico para a identificação do TEA, ele é capaz de detectar bebês com sinais iniciais de autismo. Através da leitura feita na aplicação das 31 questões, observou-se a importância da interação entre criança e cuidadores para ajudar e melhorar o desenvolvimento infantil.
O Treinamento de Suporte Parental é uma ferramenta que tem sido muito utilizada nos últimos anos. O treinamento de pais/cuidadores para crianças com TEA ou algum déficit mental ou comportamental apresenta uma melhora significativa na evolução do desenvolvimento devido a uma orientação assertiva.
O progresso do desenvolvimento de crianças com família/cuidadores que se propõem a trabalhar junto com profissionais é cada dia mais evidenciado. Para a família/cuidadores adquirir o conhecimento que gere as habilidades necessárias e corretas para acompanharem o desenvolvimento de seus filhos é necessário o trabalho de um profissional que entenda as informações recebidas. A continuidade do que é proposto em consultório ou outro ambiente é de suma importância para um bom resultado e ganhos importantes no desenvolvimento.
Quem e como usar o IRDI
Médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, professores, educadores infantis, pedagogos, neuropsicopedagogos, estudantes na área da saúde e outros podem usar este método.
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo(TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
KUPFER, Maria Cristina Machado; BERNARDINO, Leda Mariza Fischer. IRDI: UM INSTRUMENTO QUE LEVA A PSICANÁLISE À POLIS. Estilos clin., São Paulo , v. 23, n. 1, p. 62-82, abr. 2018
KUPFER, Maria Cristina Machado et al. Valor preditivo de indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil: um estudo a partir da teoria psicanalítica. Latin American Journal of Fundamental Psychopathology Online, v. 6, n. 1, p. 48-68, 2009.
MARIOTTO, Rosa Maria Marini; PESARO, Maria Eugênia. O roteiro IRDI: sobre como incluir a ética da psicanálise nas políticas públicas. Estilos Da Clínica, v. 23, n. 1, p. 99-113, 2018.
DOS SANTOS, Laerson Soares; DIAS, Cassia Maria Lopes; NOVO, Benigno Núñez. O USO DO TREINAMENTO PARENTAL COMO TÉCNICA INTERVENTIVA EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NA CIDADE DE TERESINA, ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL.