Cognição Humana
A cognição humana relaciona-se diretamente a maneira como as pessoas organizam seus pensamentos, a forma como se percebe, aprende ou recorda uma informação. Em conformidade com Sternberg (2010), devemos compreender a inteligência humana como uma estrutura organizadora da cognição, podendo inclusive ser dependente da cognição para poder existir (DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
Sternberg (2010) acrescenta que a cognição compreende ainda um processo contínuo, no qual o sujeito adquire uma informação nova, sendo capaz de transformá-la em conhecimento, acrescentando-lhes significado para a constituição de pressupostos cognitivos, que podemos evidenciar por intermédio das habilidades cognitivas (DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
Assim, Lipman (1995) conclui que os seres humanos já nascem com habilidades específicas que os fazem serem capazes de pensar e, justamente por isso, todos pensam, muito embora nem todos raciocinem bem. Para o autor, assim como para Zoller e Pushkin (2007), o ato de refletir está diretamente relacionado à construção de conceitos científicos por meio do desenvolvimento de aprendizagens e, por assim dizer, das habilidades cognitivas (DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
.Complementando essas ideias, Sternberg (2010) afirma que a cognição é diretamente responsável pela interação com a capacidade de resolução de problemas. Nesse aspecto, a competência em dividir as diversas informações adquiridas em unidades, na qual se estimule as memórias, as capacidades superiores e a organização do pensamento, gera o que podemos chamar de conhecimento (DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
Para Zoller e Pushkin (2007) a organização cognitiva das informações adquiridas é realizada por meio da capacidade de pensar, conhecer e, por fim, demonstradas a partir da incidência das habilidades cognitivas que, no que lhe concerne são destacadas pela interação professor-aluno, aluno-aluno, dos diálogos, dos escritos e da resolução de problema (DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
A cognição humana compreende ainda o quê ou como realizamos nossos comandos de comportamentos ou ações, e as relações que se firmam durante esse procedimento, ao administrarmos as informações novas ou quando respondemos ou tentamos responder problemas a respeito do que se conhece ou está apto a ser conhecido (Maturana, 2001). Para o mesmo autor, o conhecimento é construído como qualquer domínio particular, desenvolvido a partir da cognição, através de operações, condutas, pensamentos, reflexões, distinções, decisões, comportamentos ou ações adequadas a cada situação “avaliadas de acordo com nosso próprio critério de aceitabilidade para o que constitui uma ação adequada nele” (Maturana, 2001, p. 127 cita DE FREITAS COELHO, DA SILVA MALHEIRO).
Habilidades Cognitivas
Durante o desenvolvimento, as crianças são confrontadas com uma série de demandas, bem como desafios cognitivos, comportamentais e sociais necessárias para o crescimento. O desenvolvimento infantil é um processo que envolve esses diferentes aspectos e seu objetivo é tornar as crianças habilitadas para responder às suas necessidades e às demandas de seu ambiente. A interrelação desses aspectos torna o desenvolvimento um processo complexo e intrigante (BEE, BOYD, 2011 cita MARTELETO, PERISSINOTO).
Do ponto de vista cognitivo, as crianças desenvolvem flexibilidade no pensamento, a capacidade de desenvolver estratégias de resolução de problemas, a capacidade de estabelecer relações espaciais, temporais e causais entre objetos (PAPALIA, FELDMAN, 2013; BARROS, HAZIN, 2013). Do ponto de vista social, desenvolvem habilidades sociais para comunicar e realizar as atividades da vida diária que as tornam independentes; eles também desenvolvem comportamentos que os ajudam a se relacionar melhor com os outros (CABALLO, 2003; DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2003; KLIN, 2006 cita MARTELETO, PERISSINOTO).
A inteligência é uma variável importante na estruturação e dinâmica do desenvolvimento infantil global (STERNBERG, 2008 cita MARTELETO, PERISSINOTO). É concebida como uma habilidade cognitiva geral composta por habilidades mentais voltadas para a adaptação social, como a linguagem, o raciocínio lógico-matemático, o raciocínio visual-espacial e a memória de curto prazo (SILVA, 2003 cita MARTELETO, PERISSINOTO). Habilidades cognitivas envolvem respostas para resolução de problemas (PRIMI, 2003; SILVA, 2007 cita MARTELETO, PERISSINOTO). Essas respostas expressam- se concretamente no desempenho das atividades cotidianas e influenciam o desempenho de habilidades adaptativas, como comunicação, habilidades de vida diária, socialização e habilidades motoras, necessárias para que as crianças sejam incluídas socialmente e tenham autonomia pessoal (FELDMAN, 2007 cita MARTELETO, PERISSINOTO).
Habilidades Cognitivas em casos de TEA
Falhas qualitativas na adaptação às demandas sociais ao longo do tempo levam a diagnósticos como Transtorno do Espectro Autista. Nestas síndromes de anomalias do desenvolvimento global, as deficiências adaptativas andam de mãos dadas com os problemas de comunicação, bem como as restrições de interesse e atividade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). As manifestações variam consideravelmente quanto ao grau de severidade e nível intelectual de cada criança, o que afeta o desempenho das atividades diárias necessárias à autonomia (OZONOFF, et al, 2004; FOMBONNE, 2009; BAGHDADLI, et al, 2012 cita MARTELETO, PERISSINOTO). As dificuldades de adaptação social encontradas em crianças com TEA podem estar ligadas a falhas nos processos cognitivos relacionados à inteligência (RODRIGUES, ASSUMPÇÃO, 2011; CARDOSO, 2016 cita MARTELETO, PERISSINOTO).
Os perfis cognitivos têm revelado habilidades específicas que interferem nos perfis adaptativos de crianças com autismo infantil (HAPPÉ, FRITH, 2006 cita MARTELETO, PERISSINOTO). As funções executivas como flexibilidade cognitiva e a memória operacional vêm sendo estudadas e pontuadas como funções importantes no desenvolvimento da dimensão pragmática da linguagem, uma vez que, o funcionamento integrado destas funções permitiria a manutenção e atualização da conversação, sem perder informações relevantes advindas da manipulação de fatos na memória operacional e da inibição de respostas que estão fora do tema O estudo de Joseph e Tager–Flusberg (2004) encontrou correlação positiva entre funções executivas e teoria da mente, sendo estas consideradas preditoras da severidade de sintomas do espectro autista. Segundo Wing, Gould e Gillberg (2011), as funções executivas podem ser identificadas na ausência ou escassez de brincadeira simbólica nas crianças com TEA, bem como na presença de padrões restritos e repetitivos de interesse e atividade (MARTELETO, PERISSINOTO).
O atraso cognitivo também se apresenta nos déficits de raciocínio lógico e intuitivo em relação à linguagem expressiva. Estes prejuízos interferem no conhecimento do mundo, no falar com as pessoas, e na manifestação do que elas desejam.
Assim, supõe-se que as correlações entre as habilidades cognitivas e adaptativas mudem ao longo do desenvolvimento e que as habilidades cognitivas específicas promovam uma maior inclusão social das crianças com essas condições (MARTELETO, PERISSINOTO).
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e Mestre em Educação Renata Bringel, ministra um curso onde apresenta Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site www.renatabringel.com.br
Referências:
DE FREITAS COELHO, Antonia Ediele; DA SILVA MALHEIRO, João Manoel. HABILIDADES COGNITIVAS EM PROCESSOS FORMATIVOS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS. Investigações em Ensino de Ciências, v. 24, n. 2, 2019.
MARTELETO, Márcia Regina Fumagalli; CHIARI, Brasília Maria; PERISSINOTO, Jacy. A influência de habilidades cognitivas na adaptação social de crianças com transtorno do espectro autista. Desenvolvimento da Criança e do Adolescente. Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas. Guarujá-SP: Editora Científica Digital, p. 110-123, 2020.