TEA – Transtorno do Espectro Autista
A criança com TEA e a Ginástica pode sim desenvolver suas capacidades linguísticas, motoras e cognitivas, mas tudo isso depende tanto do seu grau de comprometimento quanto da intensidade dos tratamentos terapêuticos que recebe. Dentro desses tratamentos terapêuticos, são abordados elementos não-verbais, que buscam uma comunicação mais ampla e que se aproxime daquele indivíduo. Lima et. al. (2017) aponta que a participação direta do profissional de educação física em aulas de psicomotricidade estimula alunos TEA a se expressar por meio do próprio corpo, com brincadeiras que conduzem ao desenvolvimento motor, afetivo e linguístico daquele aluno. A ludicidade também se apresenta como fator determinante na participação da criança com TEA nas aulas (NOGUEIRA 2022).
Entendendo que a criança se desenvolve a partir da interação social (CHICON et. al. 2019), a interação da criança TEA com outras em ambiente escolar é fundamental para seu desenvolvimento. E as aulas de educação física são o ambiente apropriado e oportuno para que criança tenha essa interação, com jogos e brincadeiras. A dificuldade de interação social, característica do autismo, pode ser trabalhada nessas aulas com jogos e brincadeiras que estimulem o trabalho em equipe e a colaboração, introduzindo a criança em duplas ou pequenos grupos no decorrer das atividades (NOGUEIRA 2022).
O mundo não é perfeito, sendo assim, infelizmente deve ser lembrado que nem todas as crianças com TEA são propriamente diagnosticadas. Seja pela dificuldade de acesso a tratamentos, ou por relutância da família, existem indivíduos que receberão diagnostico apenas na vida adulta, ou até mesmo nunca terão acesso a esse diagnóstico. E esses indivíduos também estão nas escolas, e também merecem um olhar clínico e sensível por parte dos professores. O caminho entre a suspeita e o diagnóstico pode ser longo e demorado, e depende principalmente da ação familiar na busca dos tratamentos e exames adequados (NOGUEIRA 2022).
Dicas de Ginástica Geral para inclusão de criança com TEA
Materiais sugeridos
- Folhas de papel A4 ou o próprio caderno dos estudantes.
- Lápis e/ou canetas.
- Celular e/ou material para registro, se assim for possível.
- Materiais diversos para a realização de diferentes experiências corporais, de acordo com a disponibilidade de oferta em seu contexto profissional (exemplo: bancos, colchões, colchonetes, tatames, bolas, fitas, arcos, cordas, cones, vassoura, garrafas pet, latas, caixas de papelão etc.).
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Essa atividade inicial tem dois objetivos importantes para a prática docente: 1. realizar uma avaliação diagnóstica, explicitando os entendimentos dos estudantes sobre formas de se equilibrar, saltar e girar, dentre outros elementos constituintes da ginástica geral. Essa avaliação é fundamental para o entendimento dos conhecimentos prévios dos estudantes e para coerência do planejamento das aulas subsequentes; e 2. convidar os estudantes à aprendizagem desse objeto de conhecimento, por meio de uma prática de caráter lúdico e experimental, valorizando a experiência corporal como fundamental aos processos de construção de conhecimento. Desse modo, sugerimos que a aula se inicie com uma atividade prática na qual os estudantes irão experimentar movimentos gímnicos (ginástica geral). Sugerimos o “Pega-pega da floresta”:
Inicialmente, em uma roda de conversa, os estudantes devem escolher três animais e identificar como esses animais se movimentam, como saltar, girar, rotacionar, rastejar ou equilibrar. Assim que a turma eleger os três animais que serão representados no jogo, cada estudante deverá escolher o animal que gostaria de representar. Trata-se de um pega-pega individual, em que cada estudante é pegador e fugitivo ao mesmo tempo. Peça aos estudantes que se locomovam livremente pelo espaço, de acordo com as características do animal escolhido, e ao sinal, que consiste em dizer a frase “FLORESTA MALUCA!!!” – os estudantes devem encostar (pegar) nos colegas que representam animais diferentes do seu, transformando-os no mesmo animal que o pegador representa. Essa atividade pode ser organizada em rodadas, em que toda vez que o professor falar “FLORESTA MALUCA!!!”, os estudantes jogam o pega-pega, e quando o professor disser “PAZ NO REINO”, eles apenas podem se locomover pelo espaço imitando o animal escolhido/transformado na última rodada. Comente com os estudantes que os animais escolhidos devem incluir todos na sala. Procure estimular os estudantes a variar as experiências trazendo outros animais que conhecem e que realizam movimentos mais desafiadores. Do mesmo modo, podem escolher animais lentos, que devem ser agrupados em uma mesma experiência, como, por exemplo, tartaruga, bicho preguiça e caracol.
Ao representar as formas de locomoção dos animais escolhidos e poder transitar por diferentes performances, os estudantes dialogam com os princípios da ginástica, valorizando aqueles movimentos em que se sentem seguros e motivados a executar.
Aos estudantes que possam ter qualquer dificuldade de locomoção, sugira outras possibilidades de movimento, respeitando seus próprios limites e valorizando suas potencialidades. O reconhecimento das possibilidades e limites do corpo é fundamental para a autopercepção e também para o exercício da empatia e inclusão.
Se julgar interessante, faça uma breve conversa com os estudantes questionando-os sobre as dificuldades em realizar movimentos, os desafios e a importância de respeitar os próprios limites e os dos colegas. Comente com os estudantes que irão retomar a aprendizagem sobre uma prática corporal que também propõe muitos desafios: a ginástica.
Atividade
Circuito de ginástica
Nesta atividade, proponha a vivência de três momentos: um para cada elemento básico da ginástica.
Momento equilíbrio
Conduza a exploração das possibilidades de equilíbrio dos estudantes como, por exemplo:
- Equilíbrios com o próprio corpo
Manter-se equilibrado em quatro apoios, três apoios, dois apoios e um apoio. Além disso, explore diferentes superfícies e elementos (apoiar-se no chão, em um banco, no colchão ou outro implemento de base instável).
- Equilíbrios com materiais
Utilizar diversos materiais disponíveis na escola, como cabo de vassoura, bolas, cones, garrafas pet, latas, cordas, caixas de papelão. Os estudantes devem equilibrar os objetos com uma das mãos, com as duas mãos, com os pés, com a cabeça, com o ombro, com o tronco, com a barriga, com os joelhos, explorando os segmentos corporais e utilizando um ou mais materiais ao mesmo tempo.
Ao final das práticas, os estudantes devem escolher um movimento de equilíbrio que mais gostaram de fazer.
Momento saltos
Oriente os estudantes a experimentarem diferentes tipos de saltos: para frente, para trás, saltos com distância, saltos com altura, saltos estendidos, carpados, grupados.
Os estudantes devem escolher um movimento de salto que mais gostaram de fazer. Em seguida, peça-lhes para unir os dois movimentos escolhidos: equilíbrio + salto.
Momento giros e rotações
Possibilite a experimentação de diferentes giros e rotações, explorando as angulações (360 graus/180 graus), a lateralidade (girar para a esquerda e para a direita) e os eixos (longitudinal e transversal), os rolamentos para frente, para trás e lateral.
Os estudantes também devem escolher um movimento de giro ou rotação e unir-se aos dois movimentos escolhidos anteriormente: equilíbrio + salto + giros e rotações.
Em todos os momentos é interessante que os estudantes experimentem a realização das atividades tanto individualmente quanto em duplas ou pequenos grupos, observando as semelhanças e diferenças em fazer o mesmo salto ou o mesmo giro sozinho e acompanhado. Dessa forma, estipule um tempo para que os estudantes possam explorar cada um dos momentos e valorize, a todo momento, o respeito aos limites corporais e às regras de segurança.
Momento da reflexão
Nesse momento, organize os estudantes novamente em uma roda de conversa e retomam em conjunto algumas questões vivenciadas durante o percurso, tais como:
- Gostaram das atividades?
- Quais foram as sensações em montar uma mini apresentação em conjunto com os colegas?
- Quais movimentos puderam praticar nas atividades?
- Todos conseguiram participar da aula?
- Quais estratégias utilizaram para que todos pudessem experimentar os movimentos da ginástica?
- Como foi criar com os colegas jeitos diferentes de realizar os movimentos para que todos conseguissem participar?
- Quais foram os cuidados necessários para manter a segurança de todos durante a prática?
Após cada uma das perguntas, permita aos estudantes exporem as suas impressões. Verifique a necessidade de se utilizar outros recursos para que todos compreendam o momento de reflexão, como, por exemplo: utilizar imagens, textos ou realizar uma breve demonstração.
Sistematização do conhecimento
Explique aos estudantes que a ginástica geral possibilita a experiência de muitos movimentos. Alguns são mais fáceis, outros são mais difíceis. Também existem pessoas que têm mais facilidade em realizar alguns movimentos, mas que o importante é que todos sempre procurem participar das atividades, experimentando os desafios de forma segura e atenta, respeitando os seus limites e os limites dos colegas. Comente que algumas vezes existem colegas que se sentem inseguros e que devemos ajudá-los sempre que possível.
Além disso, valorize as condutas positivas e o exercício da autonomia dos estudantes, que se organizaram para a elaboração de uma coreografia e fizeram uma mini apresentação para a turma, exercitando valores morais como superação, coragem e responsabilidade. É importante também considerar que o sucesso e o fracasso são oportunidades de aprendizado, e, portanto, a participação na aula é fundamental para essas experiências.
Desdobramentos
Uma vez que os estudantes puderam experimentar diferentes elementos das ginásticas, planejar estratégias para a execução dos movimentos e participar individualmente e coletivamente da ginástica geral, proponha que eles investiguem possibilidades de vivenciar os objetivos da aula criando as apresentações com a inclusão de implementos, complexificando ainda mais a tarefa.
Para tal, a depender dos materiais disponíveis em seu contexto, permita aos estudantes explorar diferentes objetos, como: cordas, bolas, fitas, arcos. Proponha-lhes realizar combinações entre os implementos e os elementos da ginástica, como, por exemplo: arco com giro, com salto, com rolamento e com equilíbrio.
Para ajudar os profissionais na área de saúde e educação, a Neuropsicopedagoga Clínica e estre em Educação Renata Bringel, ministra o curso Online Testes de Rastreio para Autismo (TEA) e Atrasos no Desenvolvimento Infantil entre outros. Os cursos online realizados pela Professora Renata estão disponibilizados no site renatabringel.com.br
Referência:
NOGUEIRA, Geovanna Callazans. Práticas corporais nas aulas de Educação Física e sua contribuição para a socialização e inclusão de crianças autistas no contexto escolar: uma revisão bibliográfica. 2022.
Autor: Daiana Silva
Coautor: Laércio de Moura Jorge
Mentor: Ricardo Yoshio
Especialista da área: Luis Henrique Martins Vasquinho